Juan Pablo Villalobos ficou preso no meio da manifestação naquele 11 de junho, uma quinta-feira violenta, no centro de São Paulo. Os manifestantes pediam a redução de R$ 0,20 nas passagens de ônibus e levavam tiros de balas de borracha da polícia, enquanto o escritor mexicano tentava chegar ao teatro Sesc da Consolação para a estreia da peça Festa no covil, baseada em seu primeiro romance. Quase não chegou. E quase não acreditou no eco das manifestações que podiam ser ouvidos de dentro do teatro. Bernardo Carvalho, autor de O sol se põe em São Paulo, decidiu ver o que acontecia e, nas semanas seguintes, foi a três manifestações. Zuenir Ventura pegou uma gripe forte e não conseguiu, mas não desgrudou da televisão. Lourenço Mutarelli simplesmente não teve como não ir às ruas. O autor de O cheiro do ralo vota em branco há duas décadas, porque não acredita mais poder na representatividade da política brasileira. Saiu para ver se aplacava o cansaço de não se sentir representado. De Porto Alegre, onde os conflitos com a polícia foram intensos durante as manifestações, Lya Luft assistiu a tudo com a certeza de que há uma mudança por vir. Na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), encerrada ontem, o tom político nas mesas de discussões foi inevitável. O Correio conversou com escritores contemporâneos brasileiros para saber o que eles pensam das manifestações e como encaram o futuro do país daqui para frente.Lya LuftSou a favor de manifestações contra governo fraco, corruptos ou despreparados em altos cargos, adiamento de decisões graves etc. Sou contra violência. É triste ver que se tomam providências, não pelo bem do cidadão, mas para agradar ao pessoal da Copa. Estamos num momento sério e decisivo: tomara que seja pelo bem do país, para que a gente seja verdadeiramente eficiente e patriota.
Juan Pablo VillalobosMinha primeira reação é de enorme simpatia. Creio, no entanto, que, se as manifestações se convertem em protesto contra tudo, acabam em nada. Qualquer movimento tem que se colocar objetivos concretos, ou corre o risco de diluir-se. Por outro lado, vejo com preocupação que o movimento pode ser usado pela direita mais conservadora e recalcitrante. Algumas das pessoas que protestam, ainda que disfarçadas de atitudes contestatórias, na realidade, protestam porque seus privilégios estão ameaçados. Outro problema é que parece claro que a sociedade, em todo o mundo, parece ir pelo caminho de defender que a democracia partidária não funciona. O que fazemos? Por enquanto, não temos alternativas. Ou as que nos ocorrem estão fora da lei e supõem grandes reformas constitucionais.
Confira podcast com o escritor Zuenir Ventura
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