Maurício de Sousa está interessadíssimo em estudar a abertura de zonas de exclusão tarifárias nas quais seja possível instalar gráficas capazes de produzir livros com isenção de impostos. É que sua próxima graphic novel - Turma da Mônica -Laços - está vindo da China, novo Eldorado do mercado editorial, onde os preços são tão baixos que vale a pena atravessar dois oceanos para imprimir os álbuns. A nova investida do pai da Mônica está no segundo título - o primeiro foi Astronauta - e quer capturar o leitor adulto. Mas Sousa não abandona as crianças. São elas que, há 54 anos, fazem do cartunista o autor de histórias em quadrinhos mais lido do país. E foi pelo compromisso com as crianças que ele desembarcou em Brasília semana passada, a convite de uma escola particular, para conversar com os pequenos estudantes sobre a história e o futuro da turma. Pelo telefone, do estúdio em São Paulo, Sousa falou ao Correio.
Você sempre alimentou essa prática de conversar com crianças. Por quê? Como é o contato com elas e como elas te alimentam?
Da conversa nasce tanta coisa, tanta informação, tanta orientação para que continue fazendo as coisas que faço! Fiz isso a vida inteira, no começo meio sem querer e sem planejamento. Tive muito contato com a criançada e muita orientação por parte dela. Primeiro a partir dos filhos e depois passando para a garotada que conhecia no dia a dia e logicamente no contato com as escolas. Fui a Brasília aprender mais um pouco. Saber o que eles estão sentindo, o que estão esperando e saber, principalmente, como está a evolução intelectual dessa criançada. Temos que estar preparados para conversar com eles e entendê-los.
É uma geração com uma quantidade de estímulos gigantesca. Como lidar com ela? Qual o espaço da Turma da Mônica num mundo de galinhas pintadinhas, Ben 10 e Horas da aventura?
É, são muitos estímulos, mais do que nós mesmos somos capazes de absorver. Durante esse tempo todo que estou trabalhando, há mais de meio século, sempre houve estímulo, o outro lado crescendo, personagens nascendo, modismos não só de hábitos mas também tecnológicos. Nós ficamos sempre atentos e buscando nossa posição nas novas plataformas que foram surgindo. Isso deu certo até agora, nossos personagens ficaram cada vez mais fortes. Mas não podemos, logicamente, esquecer vãos, desvãos e caminhos novos, temos que estar por lá. Aqui e ali minha empresa deu algumas atrasadas em algumas áreas tecnológicas, mas compensou em manter a simpatia do público com os nossos meios tradicionais. E nosso meio tradicional favorito desse tempo todo foram os quadrinhos impressos. E cada vez mais é o lado dos outros caminhos, do desenho animado, da comunicação por internet, do licenciamento que funciona também como mensagem.
Em que área da tecnologia vocês se atrasaram?
Temos um site muito atrasado. O novo está prontinho para ser lançado, bem moderno, bem gostoso, interativo. Mas nosso site cresceu tanto que, de repente, estava com mais de 20 mil páginas. E, para mexer nesse mastodonte e ir alterando, não dava. Então vamos soltar um site novo. Isso custa caro e é supernecessário e complicado, porque você começa a mexer e, quando está tudo indo bem, em 20 dias tem uma crise da nova forma de comunicação, uma nova tecnologia, e a coisa já envelhece, fica obsoleta. A gente briga contra o tempo para se atualizar na área tecnológica. Mas é necessário alcançar esse desenvolvimento. Acho que conseguimos. Juntei uma boa equipe, contratei gente especializada e acho que vamos ter um site bacana até daqui a seis meses.