Mãe de um dos principais ícones do rock brasileiro, Dona Carmem Mafredini traz nos olhos a energia de Renato Russo nos palcos. Nesta conversa com o Correio, ela conta suas impressões sobre os filmes que homenageiam o líder da Legião Urbana e detalhes da vida do filho, o "sempre" Júnior (Renato Manfredini Júnior). O problema do alcoolismo, a orientação sexual e a genialidade do filho são comentados por ela com a franqueza e o carinho de uma mãe atenciosa e presente."Queria que Júnior fosse diplomata"
Qual é o balanço que a senhora faz sobre Somos tão jovens e Faroeste caboclo?
O Faroeste caboclo é uma liberdade poética. Cada um de nós imagina aquele filme de uma maneira diferente. O filme agradou muito o público na pré-estreia. René Sampaio (o diretor) pegou os principais temas da música ; o desfecho achei bem interessante ;, contextualizou com uma Brasília dos anos 1980, ficou bem interessante. Sobre Somos tão jovens, há algumas coisas que não procedem, como o início do filme em que Júnior cai de bicicleta, nunca existiu isso. Outra foi aquela em que ele empurra o pai. Júnior podia estar bêbado o quanto fosse, mas ele não encostava um dedo na gente. Comigo ele era só carinho, me beijava; dizia que eu não era culpada pelo que ele estava fazendo. Dizia que bebia e tomava drogas porque gostaria de saber a sensação que as pessoas tinham para usar em seus versos. Era um laboratório num primeiro momento. Ele tinha um pouquinho de pé atrás com o pai, porque o pai era aquele italianão seco, não tinha jeito. E Júnior se ressentia muito disso.
Somos tão jovens é a história que Dona Carminha contou sobre o filho?
Não é não. Antonio Carlos da Fontoura pegou depoimento de muita gente. Ele ficou muito tempo de caderninho e gravador na mão pegando o máximo de informação. Fez um trabalho grande. Eu não queria que ele incluísse cenas de Júnior drogado para que não influenciasse os jovens. Porque a parte do Júnior drogado era um laboratório para meu filho. Ele dizia: ;Usei todos os tipos de droga para saber como uma pessoa se sentia em cada uma delas, porque eu usava tudo em meu trabalho;.
O álcool foi a droga que prevaleceu mais?
Foi a mais difícil. Júnior morreu limpo, sem nenhuma droga no corpo. Denise Bandeira (atriz e amiga) o levou a uma clínica de desintoxicação no Rio, inclusive ele fez uma música, a 29 dias, período em que passou internado. Ele só teve recaída de álcool. O cigarro ele nunca deixou. Hoje a gente sabe que o alcoolismo é uma doença. Eu não sabia.
Quais cenas de Somos tão jovens que mais comoveram a senhora?
Primeiro, o Thiago Mendonça é a cara do Júnior (risos). Era até gordinho, porque Júnior era gordinho naquela fase. Depois é que ele ficou muito magro. A cena do primeiro show em cima de um caminhão me lembrou muito aqueles tempos. Vi o Júnior ali! As imagens dele com a irmã também me emocionaram bastante. Eles eram muito amigos. Gostei muito das cenas familiares, como aquela dos lanchinhos que eu servia para ele e os amigos (risos).