O universo do percussionista pernambucano Naná Vasconcelos é repleto de moringas, cabaças, gongos e caxixis. O berimbau, pelo qual ele se tornou célebre, mudou de status em suas mãos ; foi da capoeira para a orquestra. Incansável na busca por timbres surpreendentes para contar suas histórias, ele inventou de tirar um som, vejam só, em um pacote de salgadinhos. Foi manipulando o objeto, e temperando a levada com assobios, que Naná construiu a faixa Fogo, que integra o recém-lançado álbum 4 elementos. Tentar simular sonoramente uma pequena queimada lhe tirou noites de sono, mas o resultado foi satisfatório. ;Acenda um fogo aí que você vai ver;, disse ele ao Correio, ;o som é o mesmo;.
De sua casa no Recife, no bairro nobre de Rosarinho, o artista de 68 anos falou sobre as inquietações que o levaram ao novo projeto. ;Tudo bom, meu querido, diga aí;, iniciou, arrematado, ao telefone. No trabalho anterior, Sinfonias e batuques, de 2010, Vasconcelos fez música do encontro das mãos com a água. A empreitada lhe deu a ideia de também mimetizar os outros elementos da natureza, o que ele concretiza neste disco. Contudo, questionado se considera a percussão aquática e as acrobacias com o recipiente de salgadinhos as peripécias mais inusitadas que fez, ele minimiza: ;O mais inusitado é o que está por vir. A água e o pacote já passaram. Não quero ser conformado;.
Foi por conta da caça incessante à musicalidade extraordinária que ele gravou, em 4 elementos, a emblemática Légua tirana, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, que abre o CD e é a única não composta por ele. Sincero, diz que a versão não é uma homenagem ao conterrâneo Rei do Baião. Quis fazer o registro pelo diálogo que existe entre a canção e sua trajetória. ;Ai, se eu tivesse asa/Inda hoje eu via Ana;, canta a letra. A tal Ana, na metáfora criada por Naná, é exatamente essa busca. ;Eu sigo procurando e nunca encontrei, o que é muito bom. Eu quero sempre mais, entendeu?;
Ouça trecho da música Fogo, de Naná Vasconcelos
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