Luis Jungmann Girafa nem imaginava transformar em livro um momento de pura contemplação. No último dia de uma viagem a Portugal, já prestes a voltar ao Brasil, o artista encontrou o amigo-poeta Artur Arriscado, também em vias de deixar a capital portuguesa. Para se despedir, os dois escolheram a varanda da Pastelaria Suíça, no bairro do Rossio, em Lisboa, enquanto as esposas faziam compras. Inspirado pela história do amigo ; um militante que lutou na guerra pela independência de Angola e passou um tempo exilado na capital portuguesa vivendo como mendigo ;, Girafa começou a fotografar os pedintes e vendedores ambulantes da Praça Dom Pedro, um lugar muito turístico e visado. Durante as horas passadas naquela varanda, uma coleção sem-fim de objetos bizarros e drogas foram oferecidos aos amigos. Em vez de comprar as bugigangas, Girafa roubou imagens desprentensiosamente.
Foi ao postar os retratos no Facebook e se surpreender com a repercussão que surgiu a ideia de fazer um livro. Anônimos do Rossio é uma crônica em imagens em preto e branco de uma tarde em uma das praças mais movimentadas de Lisboa. ;O livro não foi pensado, e as fotos não foram premeditadas;, conta Girafa. ;Mas quando vi as imagens, percebi que havia uma coincidência de um olhar, que havia uma história e uma ligação entre elas.; Quando escolheram a pastelaria do Rossio ; famosa por ser frequentada por turistas ;, os amigos tinham a esperança de encontrar algumas das figuras com as quais o poeta conviveu quando morava na rua. Não acharam nenhum conhecido, mas encontraram uma coleção de tipos e rostos que, na lente descompromissada de Girafa, viraram protagonistas de um balé melancólico durante uma tarde chuvosa.
