Será que só uma criança mesmo consegue entender que uma figura desengonçada que mais parece um chapéu na verdade é uma jiboia com um elefante na barriga? É assim que começa O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, publicado pela primeira vez em abril de 1943. Para comemorar os 70 anos dessa história de amizade, saiba mais aqui.
Em O Pequeno Príncipe, o narrador da história é o próprio autor, responsável pelo tal desenho que ninguém entende. Ele encontra um príncipe loirinho no meio do Deserto do Saara, depois que seu avião tem um piripaque e é obrigado a pousar. O moleque diz que vem de um planetinha do tamanho de uma casa (e que para o aviador é o asteroide B612), com três vulcões (dois ativos, ótimos para esquentar o almoço) e uma rosa que no começo é meio metida, mas que depois acaba se tornando seu grande amor.
Enquanto o piloto tenta arrumar seu avião, o Principezinho narra suas aventuras por outros planetas até chegar ao planeta Terra. No nosso mundo, ele só conhece uma raposa muito sabida. Mas, no meio do caminho, ele encontra um monte de habitantes doidos em cada um deles: um rei mandão, um homem que se acha, um bêbado, um velho geógrafo, um homem de negócios, um acendedor de lampião... (veja o box). Quando seu avião está quase pronto, o piloto se dá conta de que não pode mais viver sem a amizade do Príncipe ; o único que entende bem seus desenhos. É como diz uma passagem do livro: ;Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas;.
Mas será que o piloto consegue fazer seu avião voar de novo? E, no fim das contas, o Pequeno Príncipe volta para seu asteroide? Só lendo mesmo para saber.
Príncipe do mundo
O Pequeno Príncipe é o livro mais vendido e traduzido no mundo ; e só fica atrás da Bíblia. O livro já vendeu mais de 143 milhões de cópias e foi traduzido em nada menos de 257 idiomas e dialetos. As crianças brasileiras conheceram o principezinho com dois anos de atraso, em 1945.
Toda história tem um começo
Tudo começou quando, em uma viagem aos Estados Unidos para se tratar dos vários acidentes que sofreu durante a guerra, Saint-Exupéry ganhou um livro muito especial de uma amiga, só para passar o tempo: era ;A Pequena Sereia;, de Hans Christian Andersen. Inspirado, ele também quis escrever uma história e, depois de ganhar tintas aquarela, estava prontinho para ilustrar essa aventura.
Como Saint-Exupéry já tinha escrito outros livros, sua editora sugeriu que ele escrevesse uma historinha de Natal. Dizem que ele se inspirou em seu irmão caçula, François, para criar o primeiro esboço do menininho que se tornaria o Pequeno Príncipe. Na hora de desenhar, filhos dos amigos viravam modelos. Para criar o tigre da história, Saint-Exupéry estudou o cachorro boxer de uma amiga, e a tão famosa ovelha do livro foi inspirada em... um poodle!
Assista vídeo de O Pequeno Príncipe
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Era uma vez um piloto...
O melhor amigo do príncipe, Antoine de Saint-Exupéry, nasceu em Lyon, na França, em 1900, e morreu em 1944, um ano depois da publicação do livro ; que ele escreveu e ilustrou. E a história não era mentira: Saint-Exupéry era piloto mesmo e trabalhava para o correio aéreo, voando das colônias francesas na África para o Chile e a Argentina ; e fazendo escala sabe onde? Em Natal, no Rio Grande do Norte! Na Segunda Guerra Mundial, ele lutou contra os alemães e, mesmo contrariando as ordens de seu médico, pois estava doente demais para voar, foi para o combate e nunca mais foi encontrado. Seu avião também sumiu para sempre. Mistério...
Pequenos príncipes ; e princesas
No Colégio Sagrado Coração de Maria, a leitura de O Pequeno Príncipe é obrigatória só para o 8; ano. Porém, em bate-papo com a galera do Super, a turminha do 5; ano mostrou que já estava bastante afiada diante de algumas perguntas sobre o livro. Entre 12 alunos, o veredito foi unânime: todos adoram o pequeno herói e suas reflexões.
Os alunos ficaram comovidos com o livro por motivos diferentes. Felipe Meneguin, 10 anos, ficou bem curioso pelas visitas enigmáticas do príncipe. ;Quem sugeriu o livro foi a minha avó, que tem 72 anos, quase a mesma idade do principezinho,; conta. Isabelle Andrade, 10, achou algumas situações engraçadas, e diz foi incentivada pelo pai ; que é professor ; a ler o livro. Já Sarah Paulista, 9 anos, começou a ler a obra em Curitiba, quando estudava por lá e fazia parte de um clube do livro.
Às vezes, a meninada fica tão empolgada com a história que o livro não é o bastante. Maria Cecília Oliveira, 10, gostou tanto que viu o filme baseado na obra, e está morrendo de vontade de ver O Pequeno Príncipe no teatro.
; É bastante emocionante, fui tocada pela história, declara Maria.
Quanto aos personagens, a maioria elegeu o Pequeno Príncipe como favorito. Larissa Ramos, 10 anos, explica:
; É ele quem participa das maiores aventuras; portanto, é o melhor.
Os cachinhos loiros, o porte elegante e o cachecol enlaçado no pescoço também indicam por que o garoto faz tanto sucesso.
; Ele é responsável, cuida bem da flor que cativou, mas também é um fofinho, confessa Maria Cecília.
]Já Giovanni Nogueira, 9 anos, prefere e a raposa sabida, pois acha que ela é fundamental para a história:
; Ela conseguiu várias coisas legais para o príncipe e deu dicas valiosas.
A galerinha também não se esqueceu de outras figuras importantes no enredo. Mariana Trindade, 10, destacou a atuação do rei, do bêbado e do homem de negócios, presentes nos diferentes asteroides visitados pelo Pequeno Príncipe. Mas os colegas protestaram:
; O homem de negócios é chato, fica lá sentado, só contando estrelas que nunca poderá ter, declarou Felipe.
Algumas frases emblemáticas ficaram registradas na memória da turma. Segundo as crianças, é impossível passar pelo livro sem guardar pelo menos uma mensagem especial. Maria Clara destacou para nós a favorita:
; O essencial é invisível aos olhos, e só se vê bem com o coração, declama.
Coleção Pequeno Príncipe
Livros: Amizade, Amor, Felicidade e Sabedoria
De Antoine de Saint-Exupéry;
V Editoras; 48 páginas; R$ 14,90
A Coleção Pequeno Príncipe reúne mensagens famosas da obra original. Algumas delas são ;Você se tornará eternamente responsável por tudo aquilo que cativar; e ;Você será sempre meu amigo. Vai ter vontade de rir comigo;. Esses ensinamentos importantes estão distribuídos em quatro livros: Amizade, Amor, Felicidade e Sabedoria.
Próxima parada?
Veja só os figuras que o Pequeno Príncipe encontra em sua viagem ; e que, pelos olhos do autor, talvez representem os piores defeitos da humanidade.
O rei (Asteroide B 325)
Esse rei mandão diz que controla o mundo todo com poder absoluto. No entanto, seu único ;súdito; é um rato velho que ele ouve passar por ali à noite, e sua única ação ;poderosa; é mandar o Sol se pôr... mas na hora do pôr do sol. Tem alguma coisa esquisita nessa história.
O homem pretensioso (Asteroide B 326)
Com um chapéu ridículo na cabeça, esse cara se acha só o homem mais bonito e inteligente do planeta ; quer dizer, de seu pequeno planeta. O Pequeno Príncipe bem que lembra o homem de que ele é o ÚNICO habitante ali, mas o cara não quer nem saber de ouvir.
O bêbado (Asteroide B 327)
Esse manguaceiro mora sozinho com sua coleção de garrafas e bebe para esquecer que tem vergonha de... beber. O menino bem que tenta ajudar, mas o bêbado se isola em sua tristeza. Vai entender!
O homem de negócios (Asteroide B 328)
Esse cara é tão ocupado que não tem tempo nem para acender o próprio cigarro (o que, nos dias do hoje, é ótimo). Mas o negócio é que ele passa seus dias contando as estrelas ; e acha ser o dono delas. O principezinho só fica mais desapontado ainda com os adultos em geral.
O acendedor de lampião (Asteroide B 329)
No começo, o menino até que vai com a cara dele. Afinal, ele é a primeira pessoa nessa viagem que tem um emprego útil: acender um lampião ao pôr do sol. Mas seu asteroide gira tão rápido que tudo que esse cara faz é acender o lampião e apagar a chama logo em seguida. E ele nem se liga disso ; e simplesmente diz ;ordens são ordens;. Afe!
O geógrafo (Asteroide B 330)
Esse cara mais velho anota toda a informação que os exploradores trazem até ele nuns livros bem grossos. Seu planeta é enorme e lindo, mas nunca viu se tem rios ou montanhas por lá porque acha que um geógrafo é importante demais para simplesmente sair por aí. Pode um negócio desses?