Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Pinturas italianas do período entre guerras são expostas em São Paulo

São ao todo 71 pinturas que estrão abertas à visitação até o fim do ano

As 71 pinturas italianas adquiridas por Francisco Matarazzo Sobrinho, o Ciccillo Matarazzo, e sua esposa Yolanda Penteado, entre os anos de 1946 e 1947, para compor o antigo Museu de Arte Moderna (MAM) paulista, serão apresentadas em uma exposição no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP). A mostra Classicismo, Realismo, Vanguarda: Pintura Italiana no Entre Guerras foi aberta na última quinta-feira (28) e deve permanecer em cartaz até o final do ano.

Além das 71 pinturas, a exposição apresenta dez obras de artistas brasileiros que mantinham relação com o ambiente artístico italiano entre guerras. A curadoria da exposição é de Ana Gonçalves Magalhães, do MAC-USP. ;A exposição é o primeiro resultado de uma pesquisa acadêmica que venho desenvolvendo no acervo do MAC-USP desde 2008 com o núcleo inicial da coleção modernista do museu herdado do antigo MAM. A pesquisa enfoca, sobretudo, as coleções de Ciccillo Matarazzo e Yolanda Penteado;, disse.

[SAIBAMAIS]A exposição mostra um panorama da arte moderna italiana entre os anos de 1920 e 1946, período no qual predominava a arte figurativa e a baseada no realismo. Entre as pinturas em exposição, há obras de Mario Sironi, Massimo Campligi, Fausto Pirandello e Giorgio De Chirico, entre outros. ;Há um aspecto comum nessas obras. Quando se olha a coleção de pinturas, ela parece uma coleção mais convencional, de pinturas figurativas, com recorrência no gênero da paisagem e da natureza-morta e do retrato. Ela não parecia uma coleção vanguardista, de arte moderna. Ela reflete o debate artístico em torno do modernismo dos anos 30, não só da Itália, mas da Europa de maneira geral e também do Brasil;, explicou.

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Segundo Ana, a arte moderna na Itália entre guerras caracterizou um fenômeno conhecido na história da arte como ;retorno à ordem;. ;O retorno à ordem significava, a grosso modo, o abandono dessa prática e desse uso da linguagem vanguardista da arte - no caso o cubismo e o futurismo - e a retomada de uma pintura figurativa de caráter realista. Quando intitulo a mostra Classicismo, Realismo e Vanguarda é porque, junto a essa ideia de realismo, os artistas, assim como outros artistas na França, na Alemanha, na Inglaterra e na Espanha, vão retomar o estudo do Renascimento e da tradição da pintura do renascimento para poder reinterpretar o modernismo. Essa pintura de caráter realista tem esse desdobramento que é o de tentar trabalhar e rever alguns artistas importantes, sobretudo do século XV italiano, para pensar numa nova proposição da pintura;, explicou.

A arte moderna italiana desse período acabou sendo promovida pelo regime fascista por meio da constituição de um sistema de arte, envolvendo galeristas, exposições, instituições e coleções privadas. ;Muitas obras são procedentes de coleções privadas italianas que estiveram em exposições oficiais durante o fascismo. A partir da segunda metade da década de 30, havia na Itália apoio à formação de coleções de arte moderna italiana em um espírito que, eu diria, parecer um modernismo mais convencional. Tem obras da nossa coleção que vem desse universo e que refletem a política pública italiana da segunda metade dos anos 30 e que estava presente em mostras que o regime promoveu;, disse a curadora. Mas essa promoção pelo regime fascista, acrescentou Ana, não significa dizer que as obras sejam políticas. ;Não significa que você tem, no conjunto uma representação explícita da política fascista. Pelo contrário: tem representações que são muito abstratas e distantes dessa ideia;, ressaltou.