Desde que ganhou o Prêmio Nobel de literatura, em 2009, por sua lírica franca e densa e por retratar o universo dos desapossados, a escritora romena Herta Muller tem sido gradualmente descoberta pelo Brasil. À época da consagração mundial , os leitores daqui conheciam apenas sua obra O compromisso, mas a lista aumenta, ano a ano. Livro de sua safra antiga, lançado em 1986, O homem é um grande faisão no mundo acaba de chegar ao Brasil, pela editora Companhia das Letras. Por um novo ângulo, ela volta a um tema recorrente em sua escrita: o terror, a crueldade e a violência de uma Romênia comunista, comandada pelo ditador Nicolae Ceausescu, vista pelo prisma da minoria alemã que habita o país.
A história está entranhada na própria vida da autora. Nascida em um lugarejo romeno habitado por alemães, Herta é filha de um soldado que serviu à SS, tropa de elite nazista comandada por Himmler, um dos homens fortes de Hitler. Sua mãe fez parte de um grupo de alemães deportados para a União Soviética e passou cinco anos aprisionada em um campo de trabalho. Apesar das agruras familiares, porém, conseguiu estudar alemão e literatura romena, e acabou se envolvendo com o movimento de oposição ao presidente Ceausescu. Acabou sendo perseguida pela polícia nacional e emigrou para a Alemanha.