Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Paulo Leminski volta às prateleiras com compilação de poemas quase-inéditos

Lançamento de seis livros do poeta paranaense resgata a elegância dos versos loucos e sóbrios de um escritor que renovou a poesia brasileira

Poemas do livro Toda Poesia, de Paulo Leminski:

A Lua no Cinema
A lua foi ao cinema,

passava um filme engraçado,

a história de uma estrela

que não tinha namorado.

Não tinha porque era apenas

uma estrela bem pequena,

dessas que, quando apagam,

ninguém vai dizer, que pena!

Era uma estrela sozinha,

ninguém olhava para ela,

e toda a luz que ela tinha

cabia numa janela.

A lua ficou tão triste

com aquela história de amor,

que até hoje a lua insiste:

Amanheça, por favor!

Datilografando Este Texto
ler se lê nos dedos

não nos olhos

que olhos são mais dados

a segredos

Mil e uma Noites até Babel

Torre

cujo tombo

virou lenda

até hoje,

a sombra,

como um membro, lembra

Como Pode?

Soa estranho, esta manhã,

tudo o que sempre foi meu, como pode?

Como pode que esse som lá for a,

os sons da vida, a voz de todo dia,

pareça ficção científica?

Como pode que esta palavra,

que já vi mil vezes e mil vezes disse,

não signifique mais nada,

a não ser que o dia, a noite, a madrugada,

a não ser que tudo não é nada disso?

Pode que eu já não seja mais o mesmo.

Pode qa luz, pode ser, pode céu e pode quanto.

Pode tudo o que puder poder.

Só não pode ser tanto.