Poemas do livro Toda Poesia, de Paulo Leminski:
A Lua no Cinema
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava para ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
Amanheça, por favor!
Datilografando Este Texto
ler se lê nos dedos
não nos olhos
que olhos são mais dados
a segredos
Mil e uma Noites até Babel
Torre
cujo tombo
virou lenda
até hoje,
a sombra,
como um membro, lembra
Como Pode?
Soa estranho, esta manhã,
tudo o que sempre foi meu, como pode?
Como pode que esse som lá for a,
os sons da vida, a voz de todo dia,
pareça ficção científica?
Como pode que esta palavra,
que já vi mil vezes e mil vezes disse,
não signifique mais nada,
a não ser que o dia, a noite, a madrugada,
a não ser que tudo não é nada disso?
Pode que eu já não seja mais o mesmo.
Pode qa luz, pode ser, pode céu e pode quanto.
Pode tudo o que puder poder.
Só não pode ser tanto.