Qual foi o cômputo de investir em textos infantis? Há retribuição das crianças, enquanto leitoras?
Na verdade, os infantis foram quase um acaso, registrei no computador historinhas que inventava para minha neta, então de três anos e pouco, que esperava irmãzinhas gêmeas, e, às vezes, vinha dormir comigo. Nos divertimos muito, eu era uma bruxa boa disfarçada de avó, e ela, minha aprendiz de bruxinha. Acabei gostando dos pequenos textos, montei no livro, minha filha (mãe dela), médica e pintora, ilustrou, e saiu Histórias de Bruxa Boa. Não pensei repetir isso, mas depois de uns poucos anos, sempre em conversas com as netinhas, percebi que ainda havia alguns temas que eu gostaria de abordar, como a morte, o namoro e casamento de uma avó viúva, etc., e saiu A volta da Bruxa Boa. Mais tarde, o Criança pensa foi escrito também me divertindo ; nesses livros solto meu lado gaiato, divertido ; para instigar o pensamento infantil e o respeito adulto pelo pensamento infantil. Não mantenho contato com crianças, não dou palestras em escolas, só muito raramente, mas sei que as crianças e os adultos estão gostando e se divertindo muito. Nada mais.
O tigre na sombra, por momentos, relata devaneios de uma jovem em frente ao espelho. O que a senhora percebe, ao se ver nessa condição? Pesam láureas da literatura? E como imagina que a Academia Brasileira de Letras lhe valore?
Nunca pensei em láureas da literatura, pra mim não significam nada, se ganhei prêmios já esqueci, meu prêmio são meus leitores, e minha editora ainda querer meus livros. Para mim, importam as alegrias e preocupações da mulher comum que sou, eu sou esta pessoa, não aquela escritora. A Academia tem lá alguns amigos queridos, e alguns escritores importantes, como Nélida (Piñon), querida amiga. Mas de verdade não penso nela, nem creio que ela pense em mim. Não tenho o menor jeito para acadêmica, eles sabem disso. E assim nos respeitamos.