Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Duas exposições em Lisboa homenageiam fotógrafo brasileiro José Medeiros

Crônicas brasileiras e Rio é uma festa contam com o acervo da extinta revista O Cruzeiro e contam parte da história do Brasil entre os anos de 1940 e 1960

Lisboa ; Duas grandes exposições fotográficas em Lisboa, com acervo da extinta revista O Cruzeiro, contam parte da história do Brasil entre os anos de 1940 e 1960. São cerca de 190 imagens feitas pelo fotógrafo piauiense José Medeiros (1921-1990), exibidas em edições originais da publicação e ampliadas em quadros nas exposições Crônicas Brasileiras e Rio É Uma Festa.

Rio É Uma Festa (título que remete ao livro Paris É Uma Festa, do escritor americano Ernest Hemingway) apresenta o Rio de Janeiro pré-bossa nova. Há cenas das paisagens urbanas, da praia, do carnaval e da vida noturna e também o contraste entre personalidades famosas em cenários requintados e figuras populares no cotidiano da cidade, ainda capital do Brasil. As fotos estão no espaço Bes Arte & Finança, no centro de Lisboa.

Os contrastes e matizes do Brasil além do litoral podem ser observados na exposição Crônicas Brasileiras. Com essas fotos, em exibição na Fundação Portuguesa das Comunicações, José Medeiros mostrou o interior do país à parcela letrada da sociedade brasileira, antes da televisão chegar ao país. São cenas dos índios do Xingu (MT) e dos retirantes nordestinos e da diversidade étnica e religiosa, como é o caso da foto-reportagem sobre uma cerimônia de iniciação ao candomblé na Bahia, publicada em 1951.

;O José Medeiros era maneiroso. Era tão bom que se tornou cineasta;, lembra Gervásio Baptista, fotógrafo decano da Agência Brasil, que trabalhou com Medeiros na redação de O Cruzeiro e o ajudou nos contatos com os pais e mães de santo para aquela reportagem. Baptista tem Medeiros como ;ídolo; e o põe ;ao lado do fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson; (considerado pai do fotojornalismo).

Para o curador das exposições Sergio Burgi, coordenador do departamento de fotografia do Instituto Moreira Salles, o acervo de José Medeiros em exibição em Lisboa mostra que a revista O Cruzeiro, publicada entre 1928 e 1975, tinha ;uma qualidade que surpreende; e um patamar ;muito próximo às revistas ilustradas daquele período;. Para ele, o veículo representava bem a época. ;Estamos falando de um fenômeno de comunicação no Brasil que está ocorrendo simultaneamente em outros países no pós-guerra."

Leia mais notícias de Diversão e Arte

Segundo Burgi, as duas exposições de José Medeiros mostram os lados arcaico e moderno do Brasil e ajudam na reflexão sobre o país contemporâneo. ;Isso é um legado de linguagem, mas também é um legado de registro significativo para entender o Brasil de hoje."

A opinião é compartilhada pela outra curadora das exposições, a historiadora francesa Élise Jasmin (na foto, ao lado de Burgi). Segundo ela, que é especialista em história do Brasil, ;juntando as duas mostras temos parte do que foi o Brasil da capital [Rio] e no Brasil do interior;, diz sem revelar a preferência por nenhum dos dois acervos. ;O conjunto representa o Brasil na sua diversidade. As fotos do Rio têm mais glamour, isso é sedutor; mas José Medeiros nunca abandona o elemento popular."

As duas exposições ficam abertas ao público até o dia 5 de abril. A entrada é franca. Os dois eventos fazem parte da programação do Ano do Brasil em Portugal.