Educação musical era coisa tão séria para Heitor Villa-Lobos que ele dedicou boa parte da vida a compor obras didáticas. Tão séria que trouxe o compositor de volta ao Brasil após anos de residência na França. Em 1931, quando viu seu plano de educação musical para as escolas públicas aprovado pela Secretaria de Educação de São Paulo, Villa resolveu voltar e tocar o projeto. Começou então a investir tempo e criatividade na composição de peças que pudessem ser utilizadas pelos professores no ensino do canto e escreveu livros inteiros de músicas exclusivamente dedicadas às vozes, coisa simples de ser ensinada: dispensava os instrumentos e explorava a mágica guardada na garganta de cada aluno. Foi atrás dessas peças, pouco conhecidas hoje e raramente executadas em concertos, que o maestro Julio Moretzsohn selecionou as faixas do disco Villa-Lobos ; Vozes do Brasil, com o coral Calíope, um dos lançamentos mais delicados e bem burilados do ano no que diz respeito ao compositor.
Moretzsohn contou com a ajuda do Marcelo Rodolfo, responsável pelo arquivo sonoro do Museu Villa-Lobos (Rio de Janeiro), para pesquisar as partituras. Todas as peças gravadas no disco estão catalogadas e bem armazenadas no acervo do museu. ;Fui selecionando o que achei musicalmente interessante, principalmente peças que não tinham sido gravadas e peças mais complexas;, conta Moretzsohn. Villa-Lobos produziu pelo menos duas obras destinadas ao ensino do canto nas escolas. O Guia prático e a coleção Orfeão dos professores reuniam arranjos de temas folclóricos, transcrições de clássicos e obras para concerto. Desse conjunto vieram boa parte das faixas do disco.