O jardim lateral da casa de Alice Lara funciona como pasto. Na chácara em Vicente Pires, a família da pintora cria bois, vacas e javalis. A poucos metros dos bichos, o ateliê de Alice guarda outra fauna. Cinquenta pinturas resumem uma obsessão pelo universo animalesco desenvolvido a partir da observação de imagens e da reflexão sobre a racionalidade. São pinturas fortes, dotadas de uma agressividade que quase se dissolve nos contornos incertos das figuras, imagens capazes de mobilizar o júri do 31; Salão Arte Pará, no qual Alice, 25 anos, ganhou o Prêmio Especial. Formada na Universidade de Brasília (UnB) e professora da Fundação Educacional do Distrito Federal, a artista começa a se destacar no cenário brasileiro com uma pintura sensível, forte e corajosa, na qual a investigação das fronteiras entre o humano e o selvagem podem ter um colorido muito tênue.
Alice começou a pintar bichos há cinco anos motivada pelo filme mexicano Amores brutos. As pinturas traziam, quase sempre, situações violentas, reproduções de cenas encontradas em imagens de rinhas pesquisadas em revistas, em jornais e na internet. ;Para mim, era como fazer uma comparação com a humanidade: eu pensava a humanidade de forma muito triste, enxergava as relações humanas de forma cruel. Mas comecei a perceber que essa comparação era injusta, que havia algo de sublime nos bichos e comecei a pesquisar animais em busca da racionalização que dizem que eles não têm;, conta.