;Tudo depende da forma como entendemos a morte. Pode ser o fim para uns, ou o começo de um novo ciclo para outros;, diz o embaixador do México no Brasil, Alejandro de La Peña Navarrete. Segundo ele, é justamente por enxergar o fim da vida desse modo que os mexicanos homenageiam as pessoas queridas falecidas com festa, música e muita comida gostosa. São preparadas receitas típicas e os pratos prediletos dos finados de cada família. A celebração, reconhecida como Patrimônio Cultural e Imaterial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), é repetida nos dias 1; e 2 de novembro há milênios, com muito bom humor e, principalmente, respeito. Afinal, os mexicanos sabem que la Santa Muerte faz parte da existência e que de nada adianta lutar contra ela.
O Dia dos Mortos é herança dos povos pré-hispânicos do México. É também época de colheita e de fartura. Por isso a festa e a alegria. ;É uma tradição milenar que a colônia espanhola incorporou;, explica Navarrete. Conforme ele conta, essa é uma forma de o povo demonstrar respeito e adoração pelos seus entes queridos. É como se os espíritos tivessem permissão para visitar sua família naquele dia para que todos possam conviver mais uma vez. ;Por isso os altares dos mortos são montados com as iguarias e os produtos que os defuntos mais gostam, como cigarros, comidas e bebidas;, descreve o embaixador.
O altar precisa ter os quatro elementos básicos representados. O diplomata conta que a água está lá para que o morto limpe seus pés após sair do reino dos mortos. Os frutos representam a terra. A vela é o fogo, que ilumina o caminho até o reino dos vivos. E o ar vem em forma de papel de seda picado. Outra peculiaridade é que a decoração da festa é à base de motivos sombrios, como caveiras. É tradição, inclusive, fazer uma caveira de açúcar e cravar o nome dos que já se foram. ;As pessoas escrevem também uma espécie de poesia com o nome do falecido. Essa estória é escrita de forma engraçada e divertida;, ensina.
Para os mais saudosos, e menos medrosos, a homenagem é feita no cemitério, em cima do túmulo do ente querido. Lá, muitos fazem piqueniques, tocam músicas e dançam. As cidades ficam todas decoradas com caminhos de velas e pétalas de rosas. O comércio também fica agitado, com esqueletos, caveiras e pássaros preparados com sementes de abóbora, açúcar e chocolate, entre outros produtos.
Em Brasília, o chef David Lechtig, dos restaurantes El Paso, importa a tradição e aproveita a data para homenagear mortos ilustres do país norte-americano, preparando os pratos prediletos de personalidades como a artista plástica Frida Kahlo, o cantor Antonio Aguilar e o ator Cantinflas. A primeira morreu em Coyoacán, em 1954, e ficou famosa por sua arte impactante, a vida dramática e a perseverança em expor seus sentimentos por meio da arte, mesmo estando acamada por problemas sérios na coluna. Ela adorava comer o pipián de pollo, um molho de tomate verde com sementes de abóbora, amêndoas e gergelim
Aguilar, apelidado de El Charro de México, lançou mais de 150 álbuns, que juntos venderam 25 milhões de cópias. Nas telonas, ele ficou conhecido por atuar em filmes como Revolução mexicana. Ele não dispensava o substancioso pozole rojo, uma sopa picante com carnes e legumes, como milho. Já Cantinflas, que gostava de quesadilhas, as famosas tortilhas recheadas com queijo, foi um comediante famoso por fazer graça com camponeses empobrecidos. Dessa forma, passou a ser associado com a identidade nacional.
Altar
O consultor das Nações Unidas Maurício Mireles, mexicano da cidade de Oaxaca e morador de Brasília, conta que, mesmo não estando no país natal, mantém as celebrações. ;Não festejo, mesmo porque não vejo a ocasião como uma festa, um carnaval. Mas homenageio, sim, os meus mortos;, conta. Segundo ele, a comemoração milenar é uma forma de ver a morte com um pouco de humor, como parte da vida de cada um. ;Mas é claro que ninguém fica feliz de ter visto uma pessoa querida ir embora. Então, não gosto de falar como festa, mas como uma celebração;, diz.
Em sua casa, Mireles escuta as músicas prediletas das pessoas queridas que morreram, vê fotos e convive, no dia estipulado, com aquela pessoa. ;É um ritual simbólico que demonstra o quanto aquela pessoa ainda faz parte da sua vida e das suas lembrança;, afirma.
Receita
Pan de muertos
Ingredientes
; 5 xícaras de farinha de trigo
; 3 colheres de café de fermento em pó
; 2 tabletes de manteiga com sal
; 5 ovos inteiros
; 5 gemas
; 1 xícara de açúcar
; Raspas de uma laranja
; 2 colheres de essência de anis
; 1 pitada de sal
; 2 gemas para pincelar
Modo de fazer
; Misturar o fermento em um pouco de água morna, acrescentar meia xícara de farinha de trigo e amassar até fazer uma bola. Deixar descansar por 15 minutos em uma vasilha coberta com papel filme. Paralelamente, misturar o resto da farinha com o açúcar e o sal. Fazer um ;buraco; no centro da farinha e adicionar 3 dos 5 ovos, as 5 gemas, a manteiga, as raspas de laranja e o anis. Trabalhar bem a massa. Misturar a massa à bola fermentada e deixar descansar até que dobre de tamanho.
; Dividir a massa em duas e fazer os pães. Colocá-los em uma forma untada e pincelar com as gemas. Decorar com pedaços de massa imitando ossos, caveiras e lágrimas. Pincelar com gema e pulverizar com açúcar. Assar no forno médio e
pré-aquecido, por 40 minutos.
Calabaza en tacha
Ingredientes:
6 xícaras de água
2 xícaras de açúcar
4 canelas em pau
1 colher de chá de cravo
1 abóbora média cortada em pedaços médios
3 estrelas de anis
1 xícara de creme de leite
5 pedaços pequenos de rapadura
Modo de fazer:
Em uma panela colocar as 6 xícaras de água, a rapadura, o açúcar e deixar ferver. Depois, colocar a canela, o cravo e o anis.
Coloque a abóbora e deixar reduzir a calda pela metade. Servir acompanhada de creme de leite .