Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Dificuldade em escolher uma canção apenas gerou situações engraçadas

Na semana passada, o Correio conversou com alguns dos mais importantes artistas brasileiros e revelou casos emocionantes embalados pelas músicas que marcaram suas vidas ; de Paulinho da Viola e Ferreira Gullar a Arnaldo Baptista e Luis Fernando Veríssimo, passando por Lília Cabral, Ziraldo e Ivete Sangalo. Desta vez, repetimos a pergunta do título para brasilienses ilustres ; aqueles nascidos aqui ou que escolheram a capital para viver. A memória musical dos personagens ajuda a contar, também, um pouco da história da nossa cidade.



A dificuldade em escolher uma canção apenas gerou situações engraçadas. O que mais se ouviu diante da questão foi: ;Será que você pode me ligar daqui a cinco minutinhos?;. Alguns pensaram durante 10 longos minutos, enquanto os repórteres aguardavam ansiosos do outro lado da linha. O fotógrafo Luis Humberto, por exemplo, foi incisivo: ;Por que me forçar a escolher só uma?;, esbravejou. A perseverança jornalística, contudo, venceu o embate. ;Estou falando só porque você está insistindo;, finalizou.

Hamilton de Holanda, bandolinista
Clube da esquina 2, de Lô Borges, Márcio Borges e Milton Nascimento
;É a versão do disco Angelus, do Milton. Gosto da letra, da melodia, mas principalmente da combinação da ambiência harmônica com o significado das palavras.;





























Rosa Passos, cantora
A felicidade, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes
;Cantada por João Gilberto. Foi a primeira vez que escutei João e fiquei fascinada. Eu só tinha 11 anos. Troquei o piano pela violão a partir dessa gravação.;

















Nicolas Behr, poeta
Beijo partido, de Toninho Horta
;Ouvia muito essa música. Adolescente, me impressionou muito este verso: ;Onde estará a rainha que a lucidez escondeu?;. Eu pirei. Ficava pensando: ;Como a lucidez esconde a rainha?;. Isso me mostrou a possibilidade de se inverter a ordem das coisas e subverter o trato da linguagem.;

















Juliano Cazarré, ator
Puteiro em João Pessoa, de Rodolfo Abrantes (Raimundos)
;Foi o primeiro show a que fui assistir, e foi quando comecei a gostar de rock and roll. Depois dos Raimundos, comecei a escutar músicas mais diferentes. Essa música marca um rito de passagem, e ela também fala disso. Marcou o começo da minha juventude.;


























Renato Matos, músico
Pai e mãe, de Gilberto Gil
;(Canta um trecho) Essa música é maravilhosa. Fala do amor puro, sem maldade, sem malícia. Eu acho que é possível amar. É uma música que tira os preconceitos do amor. Ela abriu a cabeça de muita gente. Gil é um gênio, em tudo.;

















Adriana Nunes, d;Os Melhores do Mundo
Óculos, de Herbert Vianna (Os Paralamas do Sucesso)
;Marcou a entrada e a descoberta da adolescência. Antes, eu só ouvia as músicas que meus pais ouviam. A partir desta, conheci a Legião e a Plebe, e passei a frequentar outros lugares.;

















Hugo Rodas, dramaturgo
Volver a los 17, de Violeta Parra
;Conheci no Chile a família Parra, nos anos 1970. Essa música me marcou e me marca ainda hoje. O tempo inteiro estou voltando aos 17.;

















Ellen Oléria, cantora
Testando, de Ellen Oléria
;Ela conta histórias muito particulares da minha vida, apesar de não serem muito felizes. A música me deu um presente: pessoas de todo o Brasil se conectaram a mim. Essa música fez várias pontes.;



























GOG, rapper
Naquela mesa, de Sérgio Bittencourt
;Com o Nelson Gonçalves. A música preferida de meu pai, tocava aqui na radiola de casa todos os fins de semana. Marcou a minha vida e hoje me faz sentir muita saudade do meu velho. Hoje, entendo a música muito mais do que na época, a profundidade e o significado.;

















Breno Silveira, cineasta
Com a perna no mundo, de Gonzaguinha
;Acho que sou um moleque, assim como o Gonzaguinha, que teve que sair pelo mundo.;


































José Eduardo Belmonte, cineasta
Quase sem querer, da Legião Urbana
;Foi na adolescência, quando a gente vira gente mesmo, de fato (risos). Descobre-se, enfim. O disco Dois, da Legião, foi importante. Principalmente essa, que ouvia no vinil até furar, no meu quarto da 216 Sul.;

















Murilo Grossi, ator
Travessia, de Milton Nascimento e Fernando Brant
;Até hoje eu ouço muito. Pela voz do Milton, pela poesia do Brant, pela mudança que ela causou na música brasileira. Ela é muito poderosa, cheia de significado. É uma música de amor muito simples, mas de uma beleza impressionante. Se eu a ouvisse agora, ela me emocionaria profundamente.;

















Philippe Seabra, da Plebe Rude
78 rpm, da Stiff Little Fingers
;André Mueller havia enviado, de Londres, uma fita cassete com 78 rpm para meu irmão mais velho, falando do movimento punk. Eu tinha 12 anos e, ao ouvi-la, a minha vida mudou para sempre.;

















Alexandre Carlo, do Natiruts
Thriller, de Michael Jackson
;Até então, eu não tinha visto nenhum clipe com aquela linguagem, associando cinema e música daquela forma.;



























Digão, dos Raimundos
Back in black, do AC/DC
;Comecei a gostar de rock por causa dessa música. Minha irmã foi fazer intercâmbio nos EUA e trouxe o disco pra mim, ele tinha acabado de ser lançado. Escutava o dia inteiro, levava pra escola, pirava. Eu não queria escutar sozinho, queria mostrar pra todo mundo. Foi uma divisora de águas.;

















André Luiz Oliveira, cineasta
O samba da minha terra, de Dorival Caymmi
;Quando vi o João Gilberto cantando isso, o meu mundo virou ao contrário. Eu tinha 11 anos, ouvi no rádio da empregada da minha casa. O meu universo era o de Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto. Foi uma epifania.;

















Vladimir Carvalho, cineasta
Cheek to cheek, de Irving Berlin
;Minha mãe cantava essa música em casa. Isso há uns 70 anos ou mais. Mas me comove até hoje ouvi-la. Até onde vai minha memória, há uma versão em português. Escuto com o maior agrado sempre. Às vezes, ponho aqui na vitrola.;















Luis Humberto, fotógrafo
Construção, de Chico Buarque
;É uma música lindíssima. Os períodos que a gente vive são habitados por várias músicas. Teria milhares de outras: Milton, Caetano, Beatles, Tom Jobim; Por que forçar a gente a escolher uma? É difícil escolher a favorita, isso não existe. Estou falando porque você está insistindo.;























Dillo, compositor
Serrote agudo, de Luiz Gonzaga e José Marcolino
;Tem uma gravação do Luiz com todas as tintas, de Robert Johnson a Led Zeppelin. Marcou minha infância, ouvindo disco de vinil do meu pai. Ela me emocionava muito. Adulto, fui perceber que ele tinha blues, rock e música brasileira, os principais elementos que uso na minha música.;

















Adriano Guimarães, dramaturgo
Take this waltz, de Leonard Cohen
;Ele a fez baseada em uma poesia do espanhol García Lorca. Me marcou porque eu estava montando uma peça do García (A casa de Bernarda Alba) e, pesquisando, acabei caindo nessa música. Ela influenciou muito o espetáculo, apesar de não estar nele.;
























Guerra Vicente, do Quarteto Brasília
Mazurka, de David Popper
;Adolescente, ouvia frequentemente, num 78 rotações, a gravação de Mazurka. Impressionado com a beleza contida nessa peça, e com a execução do violoncelista espanhol Pablo Casals, decidi estudar o instrumento.;























Reco do Bandolim, presidente do Clube do Choro
Samba da minha terra, de Dorival Caymmi
;Quando eu tinha de 14 para 15 anos, seduzido pelo Festival de Woodstock, só ouvia rock. Quando surgiu o Novos Baianos, com Pepeu Gomes tocando choro e samba na guitarra, descobri a força e a beleza da música brasileira. Me encantei pela versão do grupo para Samba da minha terra, à qual passei a me dedicar.;

















Carlos Elias, compositor
Singin; in the rain, de Arthur Freed e Nacio Herb Brown
;Na juventude, ficava fascinado vendo os atores dançarem naqueles musicais exibidos no cinema, principalmente Gene Kelly e Debbie Reynolds, em Singin; in the rain. A música-tema do filme ficou guardada na minha memória e, na maturidade, acabei aprendendo a dançar.;
















Clodo Ferreira, compositor
Girl, de John Lennon e Paul McCartney
;Quando eu tinha 14 anos, ouvi Girl e achei absolutamente original. Não sabia inglês e, por isso, não entendia a letra, mas fiquei fascinado com a melodia da música e a interpretação dos Beatles. Aquilo marcou a minha vida.;























Gustavo Vasconcellos, diretor da GRV Discos
Mother, de John Lennon
;Fã dos Beatles, me emocionei ao ouvir já na primeira vez Mother, que Lennon fez para a mãe. Aquela composição, composta por um emissor da paz para a mãe, me tocou bastante.;

















Jorge Ferreira, empresário e produtor cultural
Travessia, de Milton Nascimento e Fernando Brant
;Pela qualidade literária e melódica, Travessia me levou a abrir a cabeça para o mundo, a partir de Minas Geraes, numa fase importante da minha vida, a da transição entre adolescência e a juventude.;

















Marcelo Piano, produtor de eventos
Você não soube me amar, de Evandro Mesquita
;Eu a ouvi no rádio assim que ela foi lançada pela Blitz. Tinha 16 anos e senti que aquela música seria um grande sucesso. Descobri que tinha um senso crítico e tempos depois estava investindo na área do showbiz.;

















Alexandre Ribondi, ator e diretor de teatro
Mulher de 30, de Luís Antônio
;Na infância, quando minha mãe emburrava, meu pai colocava para tocar Mulher de 30, cantada pelo Miltinho. O samba no trecho inicial diz: ;Você, mulher/Que já viveu/ Que já sofreu/ Não minta/ Um triste adeus/ Nos olhos seus/ A gente vê/ Mulher de 30;;;



















Asta Rose Alcaide, presidente da Associação Ópera de Brasília
Rigolleto, de Giuseppe Verdi
;Na década de 1930, eu era do corpo de baile do Teatro Municipal de São Paulo. Na encenação da ópera Rigoletto, conheci o tenor português Tomaz Alcaide. Logo em seguida, começamos a namorar e nos casamos. Essa é uma peça que me traz muitas recordações.;

















Cláudio Cohen, maestro da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional
Quinta sinfonia, de Gustav Mahler
;O adagieto, um dos movimentos da Quinta sinfonia, de Mahler, é algo muito inspirado, e fez parte da trilha sonora do filme Morte em Veneza. Sempre a apreciei muito e a tocamos na temporada de concertos da Orquestra de 2011.;

















Roberto Corrêa, violeiro e compositor
Réquiem, de Jean Gilles
;Numa fase da minha vida, em que tive sério problema de doença, ouvia diariamente Réquiem, uma peça fúnebre, na interpretação de Musica Antiqua K;ln e Collegium Vocale Gent. Depois que me curei, não mais a ouvi, mas ela me marcou muito.;

















Torres do Rojão, líder do Trio Siridó
Qui nem sapo na lagoa,de Antônio Barros
;O primeiro grande sucesso do Trio Siridó foi Qui nem sapo na lagoa, de Antônio Barros (autor de Homem com H e Debaixo dos panos). Até hoje essa música faz parte do nosso repertório.;





















Neusa França, pianista
Fantasia improviso, de Fréderic Chopin
;Além de ser uma peça musical de grande valor, que combina trechos de velocidade com outros de calmaria e fraseados, Fantasia improviso me aproximou do meu futuro marido, pois a toquei para ele no nosso primeiro encontro, na casa da minha família, na praia de Icaraí, em Niterói, antes mesmo de começarmos o namoro.;























Zé Mulato, cantor caipira (da dupla com Cassiano)
Último adeus, de Zé Fortuna e Pitangueira
;A dupla Zé Carreiro e Carrerinho é um dos nossos xodós. A gravação deles para Último adeus vai ficar para sempre. Ouvi essa música pela primeira vez na passagem da adolescência para a vida de homem sério. Foi marcante.;

























Márcio Lacombe, radialista
Tutti frutti, de Little Richard e Dorothy LaBostrie
"Ao ouvir Tutti Frutti, com Elvis Presley, em 1957, num 78 rotações, fique impressionado com aquele ritmo e descobri o rock. Aquilo mexeu muito comigo e aí passei a seguir, além de Elvis, Little Richard e Bill Halley e Seus Cometas, que vi no filme No balanço das horas."

















Karla Osório, produtora cultural
Pra não dizer que não falei de flores, de Geraldo Vandré
;Quando Pra não dizer que não falei de flores música estourou, eu havia acabado de entrar na UnB. Essa música embalou a luta da nossa geração pela democratização da universidade.;