postado em 15/10/2012 08:05
A música que saía do rádio anunciava um outro tempo. Sob o som contagiante da sanfona, a canção falava de um Rio modificado, onde as noites de são-joão não eram mais as mesmas. ;Em vez de polca e rancheira/ O povo só pede e dança o baião;; A voz que proclamava a transformação se tornaria soberana. Era a de Luiz Gonzaga ; devidamente celebrado neste 2012, ano do centenário de nascimento. Lá, na pequenina cidade paraibana de Taperoá, o menino José Abdias de Farias ouvia aquele movimento diferente e despertava o desejo de remexer no fole de oito baixos do sisudo pai.; Se eu te pegar tocando os meus oito baixos, vou te dar uma coça, rapaz, dizia o patriarca, também de nome Abdias.
O comichão nas mãos foi mais forte que a intimidação do chefe da família e o menino buliçoso deu para esmerilhar o fole às escondidas. Um dia foi descoberto, mas a cara do pai não enfezou. Ao contrário, abriu-se em felicidade. O garoto era bom. Estava fadado a virar o mestre Abdias, que, na sina da vida, um dia se apaixonou por uma moça chamada Marinês, num esbarrão na escadaria de uma emissora de rádio. Influenciado pelo visual Lampião de Luiz Gonzaga, ele mudou o estilo da namorada e ela ficou parecida com Maria Bonita. Formaram trio com um colega de rádio Cacau ; chamado de Patrulha de Choque do Forró.
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Juntos, eles professaram o forró de Luiz Gonzaga por todos os cantos. Feiras, cinemas, circos e teatros. Trocavam, por vezes, o cachê mirrado por lugar para dormir. Ganharam fama por esse Nordeste com dimensão de um país. Um dia, no ano de 1955, Marinês, no triângulo; Abdias, na sanfona; e Cacau, na zabumba; tocaram para Luiz Gonzaga em carne e osso. O cabra ficou tão impressionado com o que viu e ouviu que, depois do show, entregou um pacote nas mãos de Abdias.