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Enquanto prepara novo disco, Arnaldo Baptista bate um papo com o Correio sobre casa no campo, artes plásticas, Kurt Cobain e medo da morte

Enquanto prepara novo disco, Arnaldo Baptista bate um papo com o
Correio sobre casa no campo, artes plásticas, Kurt Cobain e medo da morte

;Certa vez, eu estava andando em uma roda gigante, em São Paulo ; era uma das maiores. Quando eu parei lá em cima, tive a ideia de que queria ser igual a minha mãe: viver só de música;. Arnaldo Baptista acredita que tal passagem tenha acontecido no início dos anos 1960, mais ou menos no começo de sua adolescência. O compositor paulistano, hoje com 64 anos, conversou por telefone com o Correio e descreveu assim o momento em que percebeu que viver da arte não era apenas uma questão de escolha. ;Papai fazia política, meus irmãos estudavam, e eu resolvi me dedicar à música;. Simples assim.

Embora sua carreira tenha tido muito mais um quê de montanha russa do que de roda gigante, há vários anos ele está sossegado. Mora em um sítio em Juiz de Fora (MG), com a companheira Lucinha, a quem chama de ;minha menina;. De vez em quando, dá um pulo em Belo Horizonte (;uma cidade com tantas descidas e subidas que me lembra São Francisco;) para ir ao cinema e ao dentista. ;Não sinto muita falta de São Paulo, não. Lá era muito poluído;, diz.

Arnaldo tem quatro shows agendados pelo país até o fim do ano. É uma retomada iniciada em 2011, quando passou a se apresentar apenas no formato voz e piano. Mas a música, há muito tempo, divide espaço com as artes plásticas. ;Desde criança, eu acordava de madrugada. E não podia tocar, por que era barulhento. Mesmo no sítio, pra não acordar o pessoal. Então, em vez da música, eu fico pintando, horas e horas seguidas. Não atrapalho ninguém;. As pinturas de Arnaldo rodam o mundo em exposições e podem também ser vistas ao fundo dos palcos de seus parcos concertos.

Entrevista

No disco Lóki?, você cantou que não ;estava nem aí para a morte;, e já esteve bem perto dela. E hoje, você tem medo?
Uma vez, vi um homem que andava por umas paredes em São Paulo, em um parque de diversões. Depois do show, ele falou: ;A vida depende do grau de periculosidade;. Eu acho que a morte é uma coisa tão profunda. Eu penso em criogenização (processo de congelamento de corpos), um modo de manter a vida até conseguir uma cura. É um modo de ver a morte. Mas é um lado que está muito distante ainda.

Você sempre gostou de desenhar. Imaginou que as artes plásticas pudessem tomar essa proporção?
É uma coisa tão antiga. Eu tinha vocação para as artes plásticas, mas não era tão profunda quanto a para a música. Então, eu ia fazendo experiência em cadernos, e não tinha ideia de que isso seria tão importante pra mim. São duas etapas de arte que eu me proponho a fazer, mas tem dias que eu estou interessadíssimo em artes plásticas, então pinto dois quadros em uma semana. Às vezes, é o contrário: é a música. Difícil saber qual é o melhor, depende da inspiração.

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