<p class="texto"><img src="https://imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2012/08/10/316056/20120810091514253581i.jpg" alt="" /></p><p class="texto">Inventor do Brasil moderno. Campeão da mestiçagem. Pregador do sincretismo. Retratista de um país colorido e multirracial, mas também desigual, machista e violento. Cabem muitas descrições à obra de Jorge Amado e elas podem ir da qualidade literária à representação social de uma nação que começava a se descobrir, ou a ;se apalpar;, como escreveu Antonio Candido.<br /><br />[SAIBAMAIS]A história literária do baiano de Itabuna, cujo centenário é comemorado nesta sexta-feira (10/8), começa com <em>O país do carnaval</em>, em 1930, e se encerra com <em>O milagre dos pássaros</em>, em 1997, mas o que há no meio é um mundo de gente brasileira carregada da diversidade que tanto arrebatava o escritor. ;Ele, definitivamente, fez parte de uma segunda geração modernista que nos ensinou a ver o Brasil. Incluiria nesta vertente José Lins do Rego, Rachel de Queiroz e Érico Verissimo. Antes deles, o Brasil não se olhava e se desconhecia. Eles nos mostraram que temos uma história, um contexto e características muito singulares. Se houve exagero, se houve idealismo, como já foi apontado, é uma outra questão;, repara a tradutora e ensaísta Ligia Cademartori. <br /><br /><strong>Depoimentos sobre Jorge Amado</strong><br /><br />"A impressão mais forte é de uma leitura de adolescência, óbvia, a de Capitães da areia. Mas depois veio uma edição juntando o Quincas Berro d;Água, que é meu livro preferido, e o Velhos Marinheiros. E foi o capitão Vasco Moscoso que me pegou jeito: é o meu tipo inesquecível, grande personagem, embora adore os vagabundos e as putas em geral. Li um bocado de coisa e gosto muito de A descoberta da América pelos turcos, uma narrativa curtinha que fica meio escondida entre os romances mais populares. Mas. Sua obra é datada ; na medida em que traduz uma idéia de literatura e de Brasil que não se sustenta mais ; mas também sobrevive pela solidez narrativa e imaginativa. Você já viu alguma cidade em que personagens de ficção dão nomes a ruas e praças? Só Salvador mesmo. O que mostra o quanto essa obra colou-se à vida."<br /><br /><strong>Paulo Roberto Pires, escritor</strong><br /><br />"Ele começou como um autor engajado. Na primeira parte da obra dele até os anos 1950, 1956, quando ele tem aquele desencanto como todo comunista quando o discurso do Kurshov revelou as atrocidades do Stálin até aquele momento ele faz uma literatura que se oferece como retrato do povo brasileiro. A partir daí, com esse baque que o leva a tomar uma distância em relação ao comunismo, embora sempre se mantenha como um homem de esquerda, ele passa a desenhar em sua obra uma imagem mais geral do Brasil. Já não é tanto o retrato de uma classe, como fazia antes, mas é um retrato geral de todas as classes. E começa a desenhar o retrato do Brasil como nação, a trabalhar com essas características que marcam a obra dele: a sensulaidade, o humor, a malandragem. Ele começa a traçar a imagem desse Brasil colorido cheio de cheiros, comidas e cores, esse Brasil exuberante que as agêndcias de turismo ou mesmo o Ministério do Turismo vendem hoje. O que não deixa de ser um Brasil muito verdadeiro na medida que o Jorge foi um escritor realista, mas que também não deixa de ser a fantasia do Jorge a respeito do que é o Brasil. Tem muito do seu gosto, seu jeitão de ser, do seu humor, seu interesse pelas mulheres, sua maneira afetuosa de ver o mundo e ainda conservando aspectos da fase inical que é essa do povão, das classes que sofrem mais, das classes exploradas, daqueles que estão longe do poder, do dinheiro, do Brasil rico"<br /><br /><strong>José Castello, crítico de literatura</strong><br /><br />"Eu diria que ler Jorge Amado com um olhar contemporâneo é lê-lo, em primeiro lugar, como grande escritor que foi, dedicando a ele todas as reverências que merece. Em segundo lugar, acredito que devemos ler a sua obra como quem descobre o Brasil e uma parcela da população brasileira. Ler Jorge Amado com um olhar moderno significar ler olhando para nós mesmos, para a nossa história social, cultural e política. O herói na obra de Jorge Amado é o homem comum, o sujeito que não compõe a imagem tradicional daquele que se costuma definir como herói. O herói da obra de Jorge Amado é o homem mestiço baiano, o mulato pescador, escritor marginal, o desvalido, a prostituta, todo um elenco de personagens que não figurariam no papel de heroi em muitas narrativas de alto consumo contemporâneas"<br /><br /><strong>Rogério Lima, professor da Universidade de Brasília</strong><br /><br />"Os críticos de Amado colocam seus textos como "datados" devido ao forte envolvimento do autor com a ilusão comunista ; em verdade, a grande utopia da era moderna. Nisto, ele foi moderno até a medula. No entanto, muitos dos problemas denunciados nos romances persistem até hoje: o trabalho escravo nas fazendas perdidas nos grotões foi tematizado em Cacau (1933); o problema do menor abandonado e delinquente foi apontado em Capitães da areia (1937); a condição subalterna da mulher na sociedade patriarcal brasileira está presente em Suor (1934), Terras do sem fim (1942) e também em Gabriela (1958), entre outros; as violações dos direitos humanos no âmbito do aparato policial-militar são denunciadas em Subterrâneos da liberdade (1954). Enfim, o escritor esteve todo o tempo com sua sensibilidade voltada para o processo histórico e foi "homem de seu tempo e de seu país", conforme defendia Machado de Assis. Seu projeto sempre foi escrever para o povo. Assim, ele coloca o homem do povo como herói para ganhá-lo como leitor. Para tanto, se apropria da estética romanesca do século XIX e mescla elementos de romantismo e realismo com sua linguagem moderna e despojada, próxima da oralidade e dos falares regionais do país. E, a partir de Gabriela, será a vez da mulher do povo ocupar o centro da cena. Importante destacar que o fundamento romântico de seus textos guarda quase sempre um final feliz para tais personagens, a fim de coroar o processo de heroicização".<br /><br /><strong>Eduardo de Assis Duarte, professor da Universidade Federal de Minas Gerais</strong><br /><br /><a href="#h2href:%7B%22titulo%22:%22Pagina:%20capa%20diversao%20e%20arte%22,%22link%22:%22%22,%22pagina%22:%22195%22,%22id_site%22:%2233%22,%22modulo%22:%7B%22schema%22:%22%22,%22id_pk%22:%22%22,%22icon%22:%22%22,%22id_site%22:%22%22,%22id_treeapp%22:%22%22,%22titulo%22:%22%22,%22id_site_origem%22:%22%22,%22id_tree_origem%22:%22%22%7D,%22rss%22:%7B%22schema%22:%22%22,%22id_site%22:%22%22%7D,%22opcoes%22:%7B%22abrir%22:%22_self%22,%22largura%22:%22%22,%22altura%22:%22%22,%22center%22:%22%22,%22scroll%22:%22%22,%22origem%22:%22%22%7D%7D">Leia mais notícias em Diversão & Arte</a></p><p class="texto"><img src="https://imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2012/08/10/316056/20120810091534275859u.jpg" alt="" /> </p>