O pajé de uma tribo da etnia Dessana, Raimundo Kissibi, descende de uma linhagem que perdura há quase 2 mil anos. Os deuses de sua religião legaram conhecimentos de medicina, plantas curativas e orações tradicionais, repassados de pai para filho. ;Consigo curar o que não tem cura, câncer, Aids, mas como não tenho estudo, não consigo comprovar. Minha profissão é transmitir isso a meus filhos e netos;, diz, ao comentar a dificuldade de o conhecimento dos povos tradicionais ser reconhecido no meio acadêmico. A fala de Raimundo foi parte da vasta programação da 12; edição do Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, que começou no dia 20 de julho e agita o povoado de São Jorge, em Goiás, até domingo.
Além das cachoeiras convidativas e da paisagem rústica que atrai visitantes de todos os cantos do mundo, São Jorge oferece, nesse período, uma série de shows, oficinas, debates e performances, todas girando em torno do mesmo eixo: dar visibilidade a povos formadores da cultura brasileira que acabam esquecidos nos ambientes das grandes cidades. No primeiro fim de semana, o bloco afro Ilê Aiyê foi a grande atração, em um show de mais de duas horas, com seus trajes multicoloridos e coreografias que reinventam a tradição.