Com rara naturalidade, P. J. Harvey prende a atenção de quem a ouve. Não há como não se interessar por sua canção, ainda mais quando ela ousa experimentar e joga com elementos como esperança e desilusão na mesma medida. O melhor é que, ainda que suas músicas sejam acessíveis e comerciais, P. J. Harvey não se deixa seduzir pelas facilidades do pop descartável. Aliás, ela ainda é uma roqueira na origem, mas se revela ótima também nas baladas de acento folk.
O encarte do álbum informa que, além de cantar, P. J. Harvey toca violão, guitarra, sax, violino, cítara e harpa. Ela conta com alguns fieis colaboradores ; especialmente John Parish e Mick Harvey, que igualmente cantam e se revezam em vários instrumentos ;, mas assina sozinha todas as faixas, letra e música, cada qual tratada como uma crônica com endereço certo.
As canções de P. J. Harvey tanto podem falar de relacionamentos quanto de política (por que não?). Questiona, por exemplo, as intenções de quem tem o poder, como em The glorious land, em que mostra seu senso crítico: ;Como a nossa pátria gloriosa é arada?/ Não é por arados de ferro;/ Nossas terras são aradas pelos tanques e pelos pés/ Pés, marchando;/ Qual é o fruto glorioso de nossa terra?/ Seu fruto são crianças órfãs;.
The glorious land talvez seja realmente a melhor faixa, mas o disco é homogêneo, nenhuma canção se destaca demais sobre as outras. Nada é óbvio nem forçado; tudo se resolve dentro de um mesmo tema, a guerra no centro de tudo, o que explica a melancolia recorrente em vários momentos da gravação. Pode até não ser o definitivo, mas Let England shake se configura um contundente protesto pacifista da artista britânica.