Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Diretora Susan Youssef fala sobre longa árabe representante no Biff


Não existe escapismo no cinema de Susan Youssef, nova-iorquina de origem árabe. A realidade que ela conhece bem, a dos conflitos sangrentos na Palestina, a das separações e rusgas religiosas na Faixa de Gaza, é pesada demais para ser simplesmente trocada por farsas e tramas fantasistas. Habibi, seu primeiro longa-metragem ; e única produção palestina de 2011 ;, imprime na tela um desafio, uma afronta à tradição que sufoca, reprime e constrange.

É uma história de amor proibido, sobre o casal de estudantes Layla (Maisa Abd Elhadi) e Qays (Kais Nashif), na turbulenta Gaza. Reconstruindo a parábola Sufi Habibi Rasak Kharban (;Querida, tem algo de errado com a sua cabeça;), sobre um poeta romântico do século 7, Susan dá à história um ar moderno. Qays expressa seu amor por meio do grafite, estampando versos e sentimentos no concreto da cidade. ;Diferença de classe, questões espirituais, amor não correspondido. Habibi é absolutamente universal;, diz a cineasta. Ela não vem ao Brasil, mas será representada pelo produtor Pablo Estel, em debate sobre o filme (na próxima quinta, às 10h30). Em conversa com o Correio, a diretora revela amar o clima de festivais e descreve seu método de trabalho, em que o roteiro é sempre o elemento mais importante.

Hoje, há uma demanda urgente de informação sobre filmes e festivais, sobretudo por causa da internet. Qual a importância e a função que as mostras internacionais adquiriram nos últimos anos?
Na minha juventude, festival era uma palavra divertida. Significava feira de rua, andanças, comida gordurosa e deliciosa, tempo com a família, esbarrões em amigos, brincadeiras. Festival significava época de verão. Uma das minhas primeiras experiências em festival de cinema foi em 2001, quando entrei na faculdade de cinema. Não tinha filme para inscrever, entrei como espectadora. Era chamado Cinematexas Film Festival. Era mais experimental, receptivo aos curtas. Um amigo me disse, quando eu estava começando, que seria importante que eu fosse a todos os festivais aos quais fosse convidada. Ele tinha razão. Construí minha rede de relacionamentos em festivais. E ficava espantada com trabalhos que nunca entrariam num cinema tradicional. Participar como curta-metragista criava muito mais amizades e possibilitava conhecer mais trabalhos do que como diretora de longas.

O cinema contemporâneo costuma entrar em questões coletivas e nacionais por meio de jornadas pessoais. Como é lidar com essas instâncias e tentar, a cada projeto, algo novo, original?
Sou muito mais lenta com roteiros do que outros autores que conheço. Escrever não é o problema, mas é que eu passo muito tempo conversando. Fico assim porque me preocupo com a representação. Sei que existem muitas representações equivocadas dos árabes e do nosso cinema, então eu exploro meu roteiro com uma lupa. Peço opiniões de todo mundo que conheço ; de universitários de 20 anos, roteiristas profissionais e pessoas de meia-idade que adoram novelas. Não quero agradá-las ; mas crescer. Também busco conselho de acadêmicos, que devotam suas vidas a pesquisar história, religião, linguagens, poesia e política. Quero saber como eles vão contextualizar o meu trabalho.