Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Luiz Gonzaga se apresentou em cima de caminhões na construção de Brasília

A construção de Brasília movimentou muita terra e, no começo da cidade, tudo ganhava uma cor avermelhada. Os chamados ;lacerdinhas;, redemoinhos de poeira, erravam pelas ruas e descampados, rodopiando sem rumo. Era nesse cenário que Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, realizava shows memoráveis em cima de palcos improvisados nas carrocerias de caminhões, nos acampamentos das construtoras na Cidade Livre (atual Núcleo Bandeirante) e na Vila Amaury (ocupada hoje pelo Lago Paranoá). Nada disso incomodava os operários e o próprio Gonzagão, acostumado a se apresentar sob quaisquer condições nas cidadezinhas perdidas do sertão nordestino. A conexão de Luiz Gonzaga com Brasília começou antes da inauguração da nova capital e continuou ao longo do tempo até a sua morte. Ele tocou na Vila Operária (Candangolândia), na Cidade Livre (em caminhões e circos), em Taguatinga (no Forró do Nino, em circos e no Estádio Serejão), no Gama e no Plano Piloto (na Casa do Ceará).

Com os shows, a Rádio Nacional tinha como objetivos mobilizar mão de obra para a construção e promover a comunicação dos trabalhadores com seus familiares no Nordeste, local de origem da maioria dos candangos: ;Aqui é o Zeca, por aqui está tudo bem. Peça ao Sebastião para vir também;, dizia um dos milhares de operários. O cantor Fernando Lopes acompanhou vários shows de Gonzagão nos acampamentos como apresentador e era vizinho de João Batista de Lima Filho, o Miudinho, compadre e zambubeiro do grupo do Rei do Baião: ;Luiz Gonzaga era muito amigo de Juscelino (Kubitschek). Admirava muito Brasília e incentivava os candangos, dizendo que a nova capital seria a salvação do Brasil e o sonho dos brasileiros. As apresentações eram um sucesso absoluto, pois os nordestinos cultivam muito este lado de serem conterrâneos. Havia poucas opções de diversão, os shows de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro eram os grandes momentos de alegria nos acampamentos;.