Diversão e Arte

Obra do irlandês Samuel Beckett desperta o interesse do grande público

Caroline Maria
postado em 22/06/2012 08:00
Arquivo/EM

Tanto os mais comprometidos quanto os leitores concubinos da obra de Samuel Beckett (1906-1989) vibraram com o lançamento recente do livro Companhia e outros textos (2012). Nele, uma reunião da prosa final do escritor irlandês é traduzida para o português com fidelidade, ineditismo e excelência. À margem desses leitores, encontra-se outro tipo de admirador: aquele que não sabe quem é Beckett, em geral o confunde com Brecht, mas nem por isso deixa de ser fisgado por missivas como ;tentar de novo. Falhar de novo. Falhar melhor; ou ;não. Nada assim então como nenhuma luz. Ia morrendo até a madrugada e nunca morria;.



De autoria beckettiana, esses trechos estão distribuídos, respectivamente, em Pra frente o pior e Companhia, o abre-alas da compilação traduzida por Ana Helena Souza, com prefácio de Fábio de Souza Andrade, um dos maiores estudiosos do assunto no Brasil, doutor em teoria literária e literatura comparada na Universidade de São Paulo (USP). O primeiro contato de Andrade com a obra de Beckett, aos 12 anos, foi com a peça Esperando Godot. Ao lado de Dias felizes e Fim de partida, completa a trilogia teatral mais famosa do autor. ;Beckett não é entretenimento, mas paga o esforço. O maior complicador na leitura supõe essa tradição da leitura anterior. Por outro lado, ele oferece uma porta de entrada muito importante, que é o humor. A disposição comitrágica de suas obras é um convite à leitura;, explica o professor.

Pérolas do dramaturgo irlandês

"A expressão de que não há nada a expressar, nada com que expressar, nada a partir do que expressar, nenhuma possibilidade de expressar, nenhum desejo de expressar, aliado à obrigação de expressar"

"Queria, mas sabia que era impossível. E no entanto tentei muitas vezes"

Trecho do romance Molloy

"Então você não quer mais que eu venha?, disse ela. É incrível como as pessoas repetem o que acabamos de lhes dizer, como se corressem o risco de ir para a fogueira ao acreditar em seus próprios ouvidos"

Trecho de Primeiro Amor, primeiro romance escrito por Beckett em francês.

"Não somos mais nós mesmos, nessas condições, e é penoso não ser mais você mesmo, ainda mais penoso do que sê-lo, apesar do que dizem. Pois quando o somos, sabemos o que temos que fazer para sê-lo menos, ao passo que quando não o somos mais somos qualquer um, não há mais como nos apagar"

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