; Paulo Pestana - Especial para o Correio
Mesmo para quem acredita que ele bateu com as 10 ; e há quem acredite! ;, o fato é que tanto o original quanto o estepe estão vivos no mesmo corpo. Tido como um dos homens mais ricos da Inglaterra, Sir Paul McCartney poderia ter sossegado o facho, mas não para de rodar o mundo e, agora mesmo, depois de cantar para a rainha, vai ser o grande nome do show de abertura das Olimpíadas de Londres.
Há um tag no Twitter que pergunta quem é ele (#whospaulmccartney), uma dessas piadas britânicas que só eles entendem. McCartney tem zelado pela própria história musical, mas sem cair no perigoso pântano de viver do passado. Sem renegar o que fez nas últimas cinco décadas, explorando corretamente seu catálogo, ele nunca deixa de incluir canções mais recentes, mesmo algumas mais experimentais, como as do projeto Fireman.
[SAIBAMAIS] Desde 2008 McCartney não lança material novo ; exceto duas canções no disco de reminiscências que, pelo clima, ficariam deslocadas em qualquer outro lugar. Memory almost full, de 2007, foi o último disco solo que ele fez e não era grande coisa, faltou o brilho que havia mostrado dois anos antes com Chaos and creation in the backyard.
Quem assistiu às recentes apresentações de Paul McCartney pôde sentir que havia algo mais que profissionalismo no palco. Há genuína paixão e esse é outro segredo de sua longevidade; tocando com a mesma formação há mais de 10 anos, é como se ele estivesse mais uma vez num grupo. E é com a banda que ele está fazendo o novo disco.
Ao mesmo tempo, ele vem revisando toda sua carreira pós-beatles, relançando os discos com novas mixagens e faixas bônus, como alguém que arruma a casa antes de começar uma nova viagem. Ram, de 1971, é o mais recente a chegar às lojas. Creditado como um álbum de Paul e Linda, não foi muito bem recebido na época, mas a revisão faz bem a ele. É, realmente, um disco caseiro e que passa certa tranquilidade embalada numa profusão melódica. Mais uma vez, a esfinge se eleva: entre avançar ou olhar no retrovisor, Paul McCartney escolhe os dois caminhos.
Movido a desafios
Do grito primal, emulando Little Richard, ao requinte de Ecce cor meum (Behold my heart), a peça sinfônica em quatro movimentos que lançou em 2008, Paul McCartney moldou sua carreira pelo desafio. Inicialmente, a competição era com John Lennon; mais tarde ele passou a apostar corrida consigo mesmo, numa jornada obviamente egocêntrica ; nada de mais para quem gravou dois discos praticamente sozinho, McCartney (1970) e McCartney II (1980).
Principal figura dos últimos anos dos Beatles, ele custou a se aprumar sem os companheiros. O McCartney solo precisava de uma banda e criou Wings, o porto que precisava para voltar a brilhar ; ou voar. A partir de 1973, começou a enfileirar sucessos, a partir do estrondoso e internacional êxito de My love, de Red rose speedway, um bom álbum, prelúdio para dois petardos: Band on the run (1974) e Venus and Mars (1975).
Paul McCartney sempre foi o beatle mais interessado em música. Lennon cuidava das causas e da rebeldia, Harrison abraçou o misticismo e Ringo só queria saber de rock e cinema. Ele fazia as experiências no estúdio, chegava a irritar os companheiros na busca pela perfeição ; uma das cenas do mamutesco documentário Anthology mostra Paul insistindo com George em determinado solo, provocando uma explosão do guitarrista ; e buscava estar mais próximo da cena artística.
O passo mais ousado de McCartney seria dado em 1991, com o lançamento de Liverpool Oratorio (parceria com Carl Davis), uma peça autobiográfica em oito movimentos, num total de 100 minutos. A incursão erudita foi um sucesso merecido. É belíssima, vigorosa e inventiva. E contou, em sua gravação, com vozes estelares: dame Kiri Te Kanawa, Sally Burgess, Jerry Radley e Willard White.
Mas o pé continuava no chão: um ano antes, com o Oratorio já composto, McCartney havia lançado o Choba B CCCP, inicialmente apenas no mercado russo, desbravando o território pós-perestroika com um disco só de clássicos do rock;n roll.
Veja clipe da música Say Say Say com Michael Jackson e Paul McCartney:
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Paul dedicou Maybe I;m amazed a Linda, por tê-lo ajudado a superar o fim dos Beatles
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