Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Mostra de cinema coloca luz sobre a obra crucial do cineasta Douglas Sirk

Enquanto assistia às sessões com a avó, entusiasta da veia melodramática da arte escandinava, possivelmente, o futuro cineasta Douglas Sirk nem desconfiava dos desassossegos que a vida lhe traria. Um filho morto no front nazista, que o havia repelido da Alemanha, já nos anos 1930; saúde precária que o afastaria da indústria cinematográfica, no auge criativo; suicídio de um cúmplice no fazer cinematográfico (;Querido mundo, deixo vocês com suas preocupações, neste doce ambiente repulsivo;, dizia o derradeiro bilhete assinado pelo ator George Sanders) e, ao fim da vida de Sirk, a visão comprometida por cegueira.

A pretensão do diretor alemão de ;escrever com a câmera;, recauchutando roteiros de surrados dramas, está novamente na berlinda, pela exibição, no CCBB da mostra Douglas Sirk, o príncipe do melodrama, que, em caráter gratuito, exibe o grosso de toda a filmografia. Sirk inspirou autores do porte de Pedro Almodóvar e Rainer-Werner Fassbinder e, até em termos visuais, um clipe do R.E.M. e um sucesso sessentista (I;m living in shame) do The Supremes, além do teor de fundo da trama do candidato ao Oscar, Histórias cruzadas.