A catártica apresentação de Wagner Moura com os integrantes remanescentes da Legião Urbana só pode ser vista pelo que se propõe: uma homenagem à banda mais mítica do rock nacional. Para render um tributo ao ex-líder do grupo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá chamaram ao palco um ator que, nas telas de cinema, impressiona pela interpretação visceral. Talvez a atitude roqueira mimetizada por Moura, além do pendor semiprofissional pela música, tenha servido de credencial para a realização do show comemorativo dos 30 anos da banda que continuará a emocionar milhões de fãs por seguidas décadas.
As mais de duas horas de show da Legião ressuscitada mostram, no entanto, que boas intenções não bastam para resgatar com justiça a genialidade de Renato Russo. Artista complexo que, entre outras características, prezava o perfeccionismo e a irrestrita fidelidade às próprias convicções, certamente esse cantor excepcional desaprovaria vários momentos constrangedores de Wagner Moura à frente do microfone. A performance do ator remete à imagem do elefante avançando sobre cristais, impassível com o aniquilamento de autênticos hinos de uma geração. É uma postura totalmente diferente da apresentada pelo também ator Bruno Gomlevski, que percorreu os teatros do país com uma brilhante interpretação do roqueiro e de seu principal instrumento, a voz.
Em defesa da aventura musical de Wagner Moura, pode-se associar outra imagem: a do elefante em disparada rumo aos espinhos, sem se incomodar com as consequências de correr tantos riscos. Como foi dito por muitos na internet, é preciso ter coragem para tentar ficar à altura do gigante do rock. O ator teve o privilégio de celebrar com uma plateia sua condição de fã da obra dos músicos de Brasília. O que se viu foi um coração desafinado, nada mais do que isso.
Ao fim do show, confirma-se a inequívoca constatação da falta que Renato Russo faz à música brasileira. Morto precocemente, com apenas 36 anos, Renato Manfredini Júnior ainda teria muito a dizer para o Brasil, onde no Senado de Demóstenes Torres continua a haver sujeira para todo lado. Wagner Moura, Dado e Bonfá podem ter razões legítimas para relembrar a Legião. Mas apenas fazem nostalgia. Porque o pra sempre sempre acaba.