postado em 19/05/2012 12:02
Paulo Pestana, especial para o CorreioQuem liga o rádio hoje e ouve Snoopy Dogg despejando todos os palavrões conhecidos e mais alguns inventados na hora em suas canções não consegue imaginar como tudo aquilo começou dentro das paredes de uma igreja. Mas foi entre o trabalho forçado nos campos de algodão e a aculturação religiosa na nova terra que os negros norte-americanos forjaram a sua música, tudo a partir de uma nota que não consta da escala diatônica original.
Esta blue note ; que é a terça menor do acorde ; é a representação sonora da dor. Do outro lado, para dirimir esse sentimento, a igreja. E nada mudou desde então: o blues é a música do desencanto e do desespero, enquanto o gospel se apresenta com a promessa de redenção e de tempos melhores. O filho dessas tradições é o rhythm;n blues que passou a ser chamado de música soul a partir de meados dos anos 1950 e permeou a música pop de forma indelével.
Ao contrário da tradição cristã europeia, que utilizava o monótono cantochão para os serviços religiosos, era preciso cantar alto, expressar-se claramente e se fazer ouvir. E não demorou para que esta música passasse a ser mostrada também fora da igreja, com letras profanas. Um dos pioneiros foi Ray Charles, que passou a usar o coro feminino de respostas das igrejas em suas canções.