Deonísio da Silva, Mário Prata e Alcione Araújo, no início da noite desta segunda-feira (23/4), protagonizaram um dos últimos momentos da primeira edição da Bienal Brasil do Livro e da Leitura. Em papo cheio de réplicas e intervenções exaltadas, o trio, mediado por Luiz Fernando Emediato, conversou sobre a distância infeliz que separa a cultura da educação formal. O problema, segundo eles, não está em escritores, leitores e professores, mas na estrutura de ensino: a formação humana e cultural foi trocada pela profissionalização técnica dos estudantes. "Hoje, nós temos excelentes profissionais, mas um médico que nunca foi ao teatro e um engenheiro que nunca leu um romance. O homem de leitura tem maior compreensão da capacidade do outro", constatou Araújo.
"Estamos botando a culpa na formação do leitor", disse Prata. "O leitor não tem culpa nenhuma. Na minha época, todo mundo era contra. Chico Buarque criou música contra. Cada ano, o vestibular cria cinco 5 milhões e 500 mil não leitores ou mal leitores", lamentou. Deonísio, como professor universitário, fez o mea culpa das instituições de ensino superior. "Vocês acham que a Academia Brasileira de Letras representa os escritores? Que Ivo Pitanguy e Marco Maciel deviam ter cadeira na ABL? Há instâncias que você não pode respeitar, e que em outros países são tratados com respeito. A universidade ainda vinha fazendo esse trabalho e também o abandonou", explicou.
[SAIBAMAIS]A única saída é integrar ensino e cultura, livros de ciências exatas e boa literatura, arte e formação profissional. "Hoje, a educação é trajetória de adestramento para a produção. E a cultura está órfã. Os professores não leem, não têm tempo, argumentam que não têm dinheiro, mas também não têm costume", notou Araújo.