; Carlos Franco
Aos 75 anos, o carioca Renato de Castro Borghi, que entrou para história da dramaturgia nacional como o usurário Abelardo I, da montagem tropicalista de O rei da vela (1967), assume o desafio de levar ao palco a obra do pernambucano Nelson Rodrigues, que completaria 100 anos em agosto. O teatro do autor de Vestido de noiva expõe de forma nua e crua a realidade dos subúrbios do Rio de Janeiro, onde nem toda nudez será castigada nem toda traição será perdoada. Dos pequenos fatos do cotidiano, surge a tragédia, a mesma que levou os gregos a criarem o teatro.
O Teatro de Arena, exatamente o palco paulistano que Borghi ocupa desde meados do ano passado, é o local de aquecimento para o projeto dividido em duas fases e batizado de 17 X Nelson. Os espetáculos vão levar aos palcos 17 textos do dramaturgo, alguns apenas na forma de leitura. A direção é do especialista no teatro rodrigueano Marco Antonio Braz e do estreante e aclamado Nelson Baskerville, autor e diretor de Luiz Antonio Gabriela, texto biográfico sobre irmão que o molesta na infância e se torna, tempos depois, uma famosa drag queen na Espanha, até ser vitimado pela Aids. Em entrevista ao Correio, Borghi diz que abraçou o projeto, ao lado de seu grupo de uma dezena de novos e jovens talentos, porque o teatro é feito de reciclagem e a renovação depende, exclusivamente, das novas leituras e, sobretudo, dos novos no palco, trazendo uma linguagem contemporânea e uma interpretação renovada a textos consagrados.