São Paulo ; Em uma noite de tempestade, Quincas Berro D;Água desapareceu no mar da Bahia. Com esse final, o personagem concretizava sua proposta enigmática -;Cada qual cuide de seu enterro, impossível não há;. Presentes não só em A Morte e a Morte de Quincas Berro D;Água, como em tantos outros livros de Jorge Amado, a mística e a beleza do mar que banha as praias baianas estão ilustradas por 1,8 mil garrafas de azeite de dendê na exposição que começa nesta terça-feira (17/4) no Museu da Língua Portuguesa, na capital paulista.
;O dendê acaba decantando dentro dessas garrafas de 2 litros. Como é trifásico, então ele forma de fato algumas ondas;, explica a diretora de produção da exposição Jorge Amado e Universal, Ana Helena Curti, sobre os recipientes que contêm ainda citações de obras do escritor sobre o mar.
O coração da exposição, no entanto, está no grande acervo disponibilizado pela mulher do escritor, Zélia Gattai. São imagens que mostram o escritor em diversas fases e em encontros com personalidades como Tom Jobim e Fidel Castro. Também estão disponíveis cartas originais que o escritor, morto em 2001, recebeu de amigos como Carlos Drummond de Andrade e François Mitterrand.
Uma sessão da mostra é dedicada à temática do erotismo e da malandragem. Nessa parte, o visitante encontra excertos da obra de Jorge Amado que vão versar sobre a malandragem e o jeitinho brasileiro. Ao conceito do [historiador] Sérgio Buarque de Hollanda da cordialidade [brasileira];, ressalta Ana Helena.
Lembranças a personagens específicos do ficcionista baiano estão, entretanto, em outra parte da exposição. Em fitas do Senhor do Bonfim estão escritos os nomes de cada um dos mais de 5 mil personagens criados pela imaginação de Amado. Além disso, foram eleitos nove personagens que foram detalhados para o público.
As traduções para 49 línguas das obras escritas ao longo de 89 anos estão representadas em uma sala ;onde as pessoas podem ter contato com essa amplitude, essa quase geografia expandida da edição da obra. Ali, tomam contato ainda com as primeiras edições ilustradas;, destaca a diretora.
Não faltam referências aos 25 anos de militância política (comunista) do escritor. Em uma instalação que lembra as máquinas rotativas de jornais, estão fotos de viagens a países comunistas e são mostrados trechos das obras escritas nesse período. A exposição pode ser vista até 22 de julho. O museu fica ao lado da Estação da Luz, no centro de São Paulo.