Grande dama dos palcos brasileiros, Ivone Hoffmann tem plena consciência de fazer um trabalho legitimamente amador. Sem nenhuma acepção pejorativa. Pelo contrário: a atriz preserva o espírito romântico de um teatro feito com e por amor ao ofício. Integrante do movimento de contracultura da década de 1970, ganhadora do Prêmio Shell (1995) e do Troféu Gralha Azul na categoria de melhor atriz (1984-1985), ela fez desde treinamento de guerrilha até dublagens e danças como silvete (as chamadas tietes de Silvio Santos). Tudo conquistado a partir de muita dedicação e trabalho. ;Não tem essa de baixar o santo. Trabalho não é possessão. Você precisa estar presente e ter controle técnico e emocional de tudo;, conta a atriz em recente passagem pela cidade com a peça A carpa.
Bailarina clássica até os 23 anos, Ivone nunca teve dúvidas do que seria. Desde os 4 anos, muito despachada, declamava poemas enormes quando a colocavam no palco. Dotada de uma memória rara, os versinhos favoritos anunciavam a jovem impetuosa que mais tarde ganharia reconhecimento com vários prêmios: ;Não tenho medo de nada/Nem de dragão/Só tenho medo do chinelo do papai;, relembra os gracejos de criança.