Quem acompanha o noticiário esportivo está habituado a ver no topo das manchetes fofocas sobre atletas mal comportados, controversos, falastrões. Muitos deles, como se sabe, mais polemizam do que jogam. Heleno de Freitas, mineiro de São João Nepomuceno que se tornou ídolo do Botafogo nos anos 1940, pode muito bem ter sido o primeiro o chamado ;jogador-problema; do futebol brasileiro. Ao contrário de muitos por aí, foi também um craque de bola. ;Acho que foi o primeiro, sim. Fiquei na dúvida porque o Leônidas dava muito problema e é anterior a ele. Mas o Lêonidas foi vítima do racismo, numa época em que os jogadores negros do Fluminense tinham que passar pó de arroz para entrar em campo, por exemplo;, explica Marcos Eduardo Neves, autor da biografia Nunca houve um homem como Heleno (Zahar), publicada em 2006 e agora reeditada por conta do filme sobre o ídolo alvinegro que estreia hoje nos cinemas.
Heleno tinha tudo, como enumera Neves, jornalista que segue carreira de escritor ; é de autoria dele, entre outros títulos, o livro Anjo ou demônio: a polêmica trajetória de Renato Gaúcho (Gryphus). E o tudo, para um centroavante que nasceu em berço de ouro, era a paixão pelo clube carioca somada a itens, privilégios e hábitos indispensáveis: um Cadillac, passe livre em casas noturnas e hotéis do Rio de Janeiro, mulheres aos seus pés ; a sífilis o mataria em 1959, aos 39 anos ; e o vício destrutivo em éter e lança-perfume.