ADORÁVEL SEDUTOR
Você amou todas as suas mulheres com a mesma intensidade, ou teve aquelas com uma relação mais intensa?
Não se ama igual duas vezes, quanto mais nove vezes (risos).
Mas não tem alguma mais marcante em sua vida?
Todas eram no tempo em que eram. Vou lhe dizer: eu fui dispensado muito mais vezes do que dispensei. Noventa e cinco por cento me dispensaram, cinco por cento, dispensei. Eu faço muitos shows, sempre fiz, e elas achavam ruim eu ter de sair para fazer os shows; Mas, mesmo assim, os meus filhos são apaixonados por mim, não por elas. Isso porque, quando chegava das viagens, eu ficava da idade deles. Nunca bati num filho ou numa filha. Acho que nem castiguei, tipo: fica sem cinema domingo. Eu parto do princípio de que se uma criança erra não é por querer, é por não saber.
Reza a lenda que você paga pensão para todas as suas ex-mulheres. Isto é real?
A lenda rezou-se durante muito tempo, agora não reza mais (risos). Pago só para uma.
De quê ou de quem você sente saudades nesses 79 anos de vida?
Tenho saudade do tempo em que era menino em Maranguape (CE), tinha 8 anos de idade e fazia o que queria, pois, na época, eu era filho de rico (o pai era dono de uma frota de ônibus e quebrou).
Qual dos 209 personagens criados por você lhe marcou mais?
O que eu gostava de fazer era o Bexiga (um personagem do tradicional bairro paulistano). Mas foi o Professor Raimundo que ficou mais famoso desde os tempos do rádio.
Você chegou a ser amigo de Adoniran Barbosa?
Adoniran não tinha amigos, porque as pessoas eram amigas dele, mas ele não era amigo de ninguém. Como era o Simonal.
Tinha algo a ver com a soberba?
Não. O grande sucesso, às vezes, muda a pessoa.
E a sua relação com a Globo? Há um tempo você andou reclamando, mas hoje leva com bom humor;
Se permite, vou perder um pouco da modéstia. Se meu programa sair do ar, quem perde é o público e não eu. A juventude não vê a televisão, vê programas. Quem faz humor atualmente na tevê é A Praça é Nossa e Zorra Total, ninguém mais.
O que você acha dos meninos de Os Melhores do Mundo?
Sou suspeito (risos), sou padrinho deles. Gosto deles todos. Eles viveram dois momentos na vida. Um ruim, quando os teatros eram vazios, e depois o momento do grande sucesso quando estourou o quadro Joseph Klimber. Aí, eles passaram a ser uma coqueluche nacional.
O humor funciona em internet?
Há dois tipos de humor: o engraçado e o sem graça. Quando o humorismo não é entendido, as pessoas o colocam na gaveta dos sem-graça. Foi o que aconteceu com o pessoal de Os Melhores do Mundo no início, mas quando a plateia começou a entender, virou um grande sucesso.
Como é criar 209 personagens? Qual é o procedimento, são pessoas que você conheceu?
Normalmente os personagens saem de pessoas que conheço.
Mas, e o Painho?
Todos os pais de santo da Bahia acham que eles me deram inspiração para fazer o Painho.
Você torceu para vários times, até pelo Brasiliense (risos), por que tanta mudança?
Em primeiro lugar, não é proibido mudar de time (Chico foi torcedor de Palmeiras, América, Flamengo e agora é vascaíno). Em segundo lugar, se um cara muda de fé, ele não é um vira-cruz; se ele troca de mulher, não é vira-colchão; se ele muda de rua, não é vira-placa; se ele muda de partido, não é vira-voto. Por que mudar de time é vira-casaca?
Você viu Heleno de Freitas jogar?
Era um monstro. Usava gumex, era um jogador argentino no futebol brasileiro, cabeceava muito bem. Ele sempre foi meio doido. Ao sair da escola, quando criança, ele encontrou um monte de brita de uma obra que iam fazer ali. Ele dispensou o irmão que estava ao lado: vai para casa que vou ficar aqui. Ficou jogando brita nos carros que passavam a tarde toda.
Qual é a sua Seleção Brasileira de todos os tempos?
Taffarel, Djalma Santos, Domingos da Guia, Luis Pereira, Nilton Santos. No meio, Falcão, Zito, Dequinha e Zizinho. No ataque, Garrincha e Pelé.
Como era viver nos anos dourados do Rio de Janeiro?
Era maravilhoso. A gente saía do cinema, à meia-noite, e ia para a casa de Álvaro Moreira (poeta e escritor) em Copacabana, Carlos Lacerda morava na casa dele. A gente ficava até as três, quatro horas da manhã conversando, tomando uísque, comendo tapioca, canjica; Sandro Moreira, João Saldanha, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Ronaldo Bôscoli; muita gente aparecia por lá. A porta da casa estava sempre aberta, naquele tempo não tinha assalto.
Naquela época, você já curtia a bossa nova, o gênero que projetou o Brasil no mundo? Frequentou o Beco das Garrafas?
Sim, frequentei muito. O problema da bossa nova é que o Brasil é um país apressado demais. A França até hoje procura sua identidade musical; a Alemanha até hoje procura a sua música, e não achou; Portugal achou o fado, os americano acharam o jazz, e o Brasil achou vários (samba, baião, bossa nova etc.). No Japão, a bossa nova foi adotada por eles, aqui, ninguém quer mais ouvi-la.
Rio antigo (com Nonato Buzar) e Se você tem tempo, clássicos compostos por você que refletem muito bem como era a Cidade Maravilhosa. Quantas músicas você compôs?
Umas 400. Tenho gravações cantadas por Maysa, Silvio Caldas, Orlando Silva, Alcione;
Como era beber cerveja nos bares do Rio com Madame Satã?
Toda noite bebíamos uma cerveja na Lapa, no Capela. Entrei para a Rádio Guanabara (ele ficou em segundo no concurso de locutor, o primeiro foi Silvio Santos) e o meu horário era de madrugada, de meia-noite às três da manhã. Saia da rádio e ia para o Capela. Ficamos amigos. Ele gostava de contar histórias, era uma fera na briga. Na briga, ele era muito mau.
Você já teve um caso com a Dercy Gonçalves?
Não, não. Eu era guru da Dercy. Tudo que acontecia, ela me procurava e contava. Dercy só falou bem de mim a vida inteira e só falo bem dela até morrer.
Se você fosse eleito hoje presidente da República, qual seria a sua primeira decisão?
Renunciar. (risos)