A quilômetros dos corredores do Palácio do Catete, na época em que o Rio de Janeiro ainda era capital federal, Getúlio Vargas levava uma vida privada um tanto picante e destemperada. Num certo episódio recuperado pelo autor José Carlos Mello, em Os tempos de Getúlio Vargas (Topbooks), Iedo Fiúza, amigo e primeiro diretor do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER, hoje Dnit), fez os arranjos para um encontro do chefe de estado com Aimeé Lopes, esposa de Luiz Simões Lopes, então chefe de gabinete do comandante do país e futuro presidente da Fundação Getulio Vargas por cinco décadas. O recanto dos amantes era o bosque de uma propriedade em Poços de Caldas (MG). O caudaloso livro de Mello (596 páginas) tenta confrontar as personas política e pessoal do icônico gaúcho de São Borja, num relato que reúne momentos conhecidos, fragmentos de leituras e interpretações do diário escrito de próprio punho pelo político, publicado em 1995.
Mesmo diante de uma figura pública largamente conhecida e comentada, Mello não teve medo de parecer redundante: segundo o escritor, seja qual for o viés escolhido, Vargas sempre se apresenta como um homem paradoxal. ;Nele, cabem múltiplas interpretações. Os sentimentos em torno dele andam entre o ódio, o amor, as grandes paixões e o desprezo. Mas a verdade é que fui descobrindo, numa longa pesquisa, por meio de pistas deixadas pelo próprio Getúlio, que ele foi uma pessoa pouco empreendedora;, resume Mello, engenheiro especializado em transportes e hoje dedicado aos livros.
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