Três perguntas /// Edgar Vasques
O que mais te encantou em Brasília? E o que você mais achou estranho na cidade?
Acho que eu via Brasília como a média dos brasileiros: uma cidade inédita, feita para ser a capital da esperança. Ao frequentá-la, aos poucos, o que eu vi foi... o Brasil. O que me encanta em Brasília é o confronto vivo entre a inédita (e única) dose de utopia com que foi concebida e a realidade que trabalha para corroer aquele projeto. O resultado dessa tensão é, em si, estranho: o belo corpo futurista possuído pelos velhos exus do carma brasileiro.
Em quais projetos vocês está trabalhando atualmente? Qual a previsão de publicação deles?
Além de colaborar como frila em várias publicações, acabo de lançar (em novembro de 2011) um álbum de HQ chamado Tragédia da Rua da Praia em Quadrinhos, com roteiro do jornalista e escritor Rafael Guimaraens. Ele levantou uma incrível história verídica sobre um assalto ocorrido na Porto Alegre de 1911. Os assaltantes (quatro anarquistas russos), acabaram fuzilados pela polícia depois de uma fuga espetacular. O incrível é que parte da ação foi filmada ao vivo e, 10 dias depois do fato, um cinema da cidade exibia a versão filmada dos fatos. Quer dizer, cem anos atrás levaram dez dias pra produzir e exibir um filme! Rafael escreveu um romance-reportagem levantando toda a história e, ano passado, me convidou pra desenhar a versão em HQ. Além disso, estou fazendo aquarelas para uma série de quatro documentários sobre "a maior praia do mundo", 220 km ininterruptos de litoral entre a cidade de Rio Grande e o arroiuo Chuí, extremo sul do Brasil. Devem ir ao ar em março, pela RBS TV aqui do RS. Uma navegadinha no meu blog (evblogaleria.blogspot) pode te fornecer ilustração obre tudo isso. E, devagarinho (ainda sem editor), comecei a desenhar uma idéia antiga: a graphic novel sobre um pintor rupestre na pré-história, intitulada Captor, minha homenagem ao ancestral ofício de desenhar.
Qual sua opinião sobre o projeto de lei que visa reservar uma cota dentro das editoras brasileiras para o quadrinho nacional?
Acho que esse é um tema para uma conversa mais longa e específica. Por enquanto, posso dizer que participei do início dessa discussão. Nos anos 1980, fui um dos quadrinistas convocados pelo Congresso Nacional para orientar os deputados da Comissão de Comunicação, em contraponto aos editores, na discussão da segunda versão da lei de reserva de mercado para o quadrinho nacional. Comigo estavam Henfil e Cláudio Paiva, entre outros. Conseguimos obstaculizar a sanção da versão deturpada da lei, que vinha com uma emenda sacana que definia como "quadrinho brasileiro" toda a HQ "produzida ou traduzida" no Brasil... O congresso suspendeu a apreciação da lei e recomendou um acordo entre desenhistas e editoras sobre um novo texto, o que não aconteceu até hoje.