Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Poeta Manoel de Barros celebra amigo com obra ilustrada por ele mesmo

;Bernardo é quase árvore/Silêncio dele é tão alto que os passarinhos/ouvem de longe/E vêm pousar em seu ombro./Seu olho renova as tardes.; Desde o livro O guardador de águas, o poeta mato-grossense Manoel de Barros celebra, em desconcertantes poemas, o seu amigo Bernardo, uma espécie de São Francisco de Assis sertanejo delirante, que abriga os passarinhos nos ombros, apascenta as águas e fala a língua das pedras ou das rãs. O personagem surreal percorre vários livros de Manoel com seu impulso indomável de invenção e reinvenção, em guerra permanente contra o senso comum. Mas, com a morte de Bernardo, Manoel eterniza o amigo em Escritos em verbal de ave (Leya). Não é um livro convencional; é um livro-brinquedo, livro-casulo, livro-borboleta (projeto de Luciana Facchini) que se abre em dobraduras de muitas surpresas aos olhos do leitor, com sugestivos desenhos do próprio Manoel, incrustados na página como inscrições ruprestes.

Manoel de Barros escavou uma das vozes mais originais da poesia brasileira. A sua trajetória vai na contramão da maioria dos poetas que, ao se consagrarem, tendem a vestir camisola e fardão acadêmicos, no corpo e na alma. Com 95 anos, Manoel se esmera, cada vez mais, em reacender o menino arteiro que anima a sua poesia. De fato, o livro-borboleta poderia ser adotado como obra poética para as crianças. Esse ponto de vista lúdico é celebrado em Escritos em verbal de ave por Manoel com uma honrosa epígrafe pinçada na obra do poeta brasiliense Nicolas Behr: ;A infância/É a camada/Fértil da vida;.

A matéria completa você lê na edição impressa do Correio Braziliense desta segunda-feira (27/2)