Com R$ 70 mil obtidos de um edital do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) de 2010, o grupo enterrou a intenção de realizar o DVD em um teatro com a participação de crianças das escolas públicas e apelou para um plano b. A mistura de batucada com som eletrônico do Patubatê traz embutido um conceito que acompanha as atividades do grupo desde seu nascimento, há 11 anos, e as oficinas de instrumentos recicláveis com crianças fazem parte da rotina. Sem dinheiro suficiente, mas com muita criatividade em caixa, os músicos e o diretor miraram o Estádio Nacional.
Contra todas as probabilidades ; quando visitam a obra, equipes de televisão e jornalistas são confinadas a um espaço restrito e não podem caminhar no ;buraco; do estádio ;, conseguiram autorização do Governo do Distrito Federal e do consórcio que toca a construção para filmar no local. ;Tem tudo a ver com o grupo e é um momento que vai ser histórico;, repara Fred Magalhães, fundador do Patubatê. ;Quando entrei aqui, há 20 dias, tive a certeza de que teríamos várias locações possíveis.;
Além de gravar no futuro gramado, com objetos cênicos como uma carcaça de caminhão, um orelhão e os galões de PVC que servem de tambores, o diretor Bruno Bastos também optou por registrar todas as faixas em um espaço coberto embaixo da arquibancada, ao lado de caminhões e vergalhões provisórios. ;Curto pra caramba essa estética e resolvi fazer a equipe ficar aparente o tempo todo;, avisa Bastos. As roupas laranja e as galochas pretas obrigatórias para qualquer visitante facilitaram a ideia do diretor: a equipe se confunde com os operários e o cenário da obra.
O som industrial da mistura proposta pelo grupo encaixa no contexto e Fred acalenta a ambição de ver o Patubatê convidado para a abertura do estádio. Sem nenhum disco gravado, os cinco músicos decidiram partir direto para o DVD por razões puramente visuais. ;Somos muito performáticos e ouvindo a música nem sempre é possível visualizar o que é a performance;, explica Fred. Bruno Bastos usou a mesma estratégia explorada em Despacho urbano, com MV Bill, e no videoclipe Edom, do Innatura: nada de roteiro para limitar as tomadas.
Experiência
A sensação de deslumbre no centro do futuro palco do principal campeonato de futebol do mundo fez o baiano Pablo Maia, o mais novo integrante do grupo, refletir sobre o tempo. ;Nunca mais vamos passar por essa experiência. A gente tá vendo a criação da criança. Você olha em volta e pensa ;sou tão pequenino;.; Houve até uma pelada durante a mudança de set logo após o almoço de domingo. Com ecobola, claro, porque o trabalho com materiais ecossustentáveis e recicláveis é parte da alma do grupo.
A faixa Tou bolado é uma das mais divertidas. Começa distante, na arquibancada, com supostos operários jogando as bolas laranjadas para os membros do grupo que, em seguida, trocam os objetos por instrumentos. Rock a balde traz um dos instrumentos mais curiosos da banda: um conjunto de baldes de alumínio cravejados de tachas cujos sons lembram o pandeiro. Mega mix tem efeitos especiais com água e fumaça e Biritum Beirute simula um jogo de escravos de Jó com complexa sonorização e latas de bebida no lugar das caixas de fósforo.
Além das imagens do estádio, o DVD terá ainda gravações no Plano Piloto. Bruno Bastos quer a cidade evidenciada para mostrar a origem do grupo. Do projeto original com as crianças, a equipe vai tentar guardar a ideia traduzida em poucas sequências durante as oficinas. ;Pode ser que tudo isso venha a crescer;, arrisca o diretor, que também pensa nos extras durante as filmagens. ;Dá para fazer um grande documentário mostrando Brasília, o trabalho do Patubatê e a obra do estádio.;