Atento a uma ;perspectiva histórica;, Belmonte conta que, escalado para debate, ele vai participar da homenagem ao ator (que estrela Billi Pig) e ainda colega cineasta Selton Mello ; ;um artista raro; ;, grande homenageado da Mostra de Tiradentes, três anos depois de o evento enaltecer as obras de Belmonte. ;Ele apostou em variações de diretores e temas. Buscou filmes que, se não fosse por ele, nem seriam vistos. Ele sempre pensou para além de si, em como criar um mercado, um jeito de fazer e de pensar cinema. É alguém que instiga, inquieto e que busca não só o que é bom pra época dele, para o seu tempo;, explica o brasiliense.
Adepto da ;coautoria; e do cinema de contribuição, Belmonte será, ao lado do diretor Heitor Dhalia e do preparador de elenco Sérgio Penna, um dos participantes do debate A política do ator no percurso de Selton Mello. A homenagem ao ator mineiro de 28 filmes e que já celebrado, no passado, no Festival de Cinema de Gramado, coincide com a comemoração das três décadas de carreira dele. Com a exibição de 31 longas-metragens e de 84 curtas, com ares de debute, a Mostra de Cinema de Tiradentes contempla um conceito de painel e reafirma a vocação ao debate, com 19 encontros programados, inclusive um que trata a temática O Ator em Expansão, com a participação dos intérpretes João Miguel, Karine Telles (premiada melhor atriz, em Gramado) e Marat Descartes (de Trabalhar cansa).
Olheiros internacionais
Numa realidade em que a produção nacional foi completamente alterada ; em relação à primeira edição do evento, o volume de filmes é quatro vezes maior ;, a mostra terá o que revelar para estrangeiros, como os programadores e curadores de festivais como os de Cannes, Veneza e de San Sebastián, por exemplo. A partir do escopo de criação independente (tema de um dos seminários), é possível demarcar a presença de realizadores da cidade (Dácia Ibiapina e Adirley Queirós), integrados à Mostra Aurora composta por sete longas. Cercando proposta de efervescência, as fitas serão vistas, com rigor, por Júri Jovem, com pessoas de até 24 anos.
À frente do primeiro longa Entorno da beleza, Dácia se detém no exame dos bastidores gerados pelo acompanhamento de um concurso de belezas registrado em 2010. ;Quis abordar a questão do centro e da periferia, de uma forma diferenciada, sem muitas entrevistas, num documentário de observação. Não me concentrei na disputa, mas nos sonhos delas, que, querem ser modelo, ser miss e ainda cursarem uma faculdade, com a bolsa de estudos oferecida pelo concurso;, explica Dácia, que chegou à capital em 1989 e é professora da Faculdade de Comunicação da UnB. Feita em suporte de alta definição, ao longo de dois anos, a fita projeta as expectativas e a amizade, elementos ressaltados no processo.
Segredos
A ser exibido na sexta-feira, A cidade é nossa? (de Adirley Queirós) é outro documentário da capital. Nele, assumindo o termo ;periferia; para localizar Ceilândia, o diretor parte do falido intento da urbanização prevista para erradicar invasores (em campanha de 1971) para relativizar a ;igualdade; prevista para os moradores. A participação de produções candangas se multiplica no segmento de curtas. Entre 600 filmes inscritos, quatro fitas locais estarão em três seções de programas: A mulher no alto do morro, documentário feito no sertão mineiro por Cássio Pereira dos Santos; Deus, em que o diretor André Miranda aplica novo sentido à vida de um personagem morto; A arte de andar pelas ruas de Brasília, de Rafaela Camelo, que narra um encontro entre duas meninas; e Sonhando passarinhos, no qual a cineasta Bruna Carolli aposta em personagem que vê a felicidade saída do céu.
A Mostra de Cinema de Tiradentes que, pela estimativa da organização já atraiu mais de 470 mil espectadores, ainda terá exibições de Girimunho, obra em torno do binômio música e memória (no sertão mineiro), mostrada no Festival de Veneza e dirigida por Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina, e do premiado Olhe para mim de novo (de Kiko Goifman e Cláudia Priscilla), eleito como melhor documentário no Festival Mix Brasil.
Outros documentários, como Vou rifar meu coração (de Ana Rieper) e Palhaço.doc (sobre os bastidores do longa O palhaço) também serão vistos. Ainda no gênero, o diretor Joel Pizzini comandará a oficina A Subjetividade Objetiva: O Documentário de Criação. Com realização a 180 quilômetros de Belo Horizonte, sob a curadoria de Cléber Eduardo, a mostra terá participação de convidados como a produtora Sara Silveira e os realizadores Edgard Navarro, Tata Amaral, Leonardo Sette e Helvécio Ratton. Francisco César Filho é outro diretor em destaque, pelo longa Augustas, no qual reúne Mário Bortolotto, Selma Egrei e Juliano Cazarré, enquanto Alberto Salvá (morto no ano passado) terá exibição de Na carne e na alma, sobre um jovem de Niterói, que descobre os prazeres do amor.