A fantasia nacional soma algumas dezenas de títulos, como as séries vampirescas de André Vianco; A batalha do Apocalipse, de Eduardo Spohr; e a trilogia Dragões de éter, de Raphael Draccon. O fenômeno editorial ocorreu no momento em que o mundo vislumbrava a magia de Harry Potter e o cinema resgatava a saga de O senhor dos anéis. Mas as inspirações dos escritores daqui foram várias, passando por J. R. R. Tolkien, J. K. Rowling, C. S. Lewis e chegando a nomes do passado, como o criador do Conde Drácula, Bram Stoker.
Dono de um recorde de 700 mil cópias vendidas, com 14 livros publicados e um em produção, André Vianco ensaia os primeiros passos como diretor de uma série de tevê baseada na trilogia O turno da noite. A produção é independente, e conta apenas com o episódio piloto até o momento. ;São passos tímidos ainda, mas os leitores adoram. É aquela coisa bem brasileira, bem autoral. Eu escrevi o roteiro, dirigi e abri minha produtora;, acentua.
Receita para o sucesso não existe, mas Vianco sempre dá dicas nas palestras que faz pelo Brasil a jovens que pretendem tornar-se escritores: ;É gostar de escrever e sobretudo gostar de ler. Ser perseverante, porque o mercado não é fácil;.
Medieval e tecnológico
O estilo do carioca Raphael Draccon, 30 anos, é diferente, sem seres sanguinários. Autor da saga Dragões de éter, com mais de 50 mil exemplares vendidos, Draccon lançou-se no projeto de escrever um livro para ser como Bruce Lee. De tanto assistir a Operação Dragão na infância, ele prometeu para si que também seria escritor e faixa-preta, e trabalharia com cinema. ;Precisei de 20 anos para cumprir toda a promessa;, brinca.
A trilogia Dragões de éter é uma releitura de vários contos de fada compartilhando a mesma trama, com uma linguagem para adolescentes, e não para crianças. Contém ação e magia na mesma medida, em um cenário medieval e tecnológico. Ninguém escapa. Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, a Branca de Neve e os sete anões, estão todos lá, com uma dose farta de cultura pop, vinda principalmente do rock.
A trilogia ganhou forma em meio a uma rotina agitada. Raphael estudava cinema de manhã, dormia à tarde, dava aulas à noite e escrevia de madrugada. O esforço rendeu, à época, um original de 400 páginas, entregues nas mãos do editor. A edição publicada tem cerca de 1.400. ;Eu havia produzido uma capa simbólica, os personagens impressos em papel especial. A ideia era resgatar o que a minha geração sentia ao assistir a A caverna do dragão. Uma obra envolvendo um cenário sombrio, suavizado por uma visão juvenil;, explica Draccon.
Quando publicou os livros pela primeira vez, cinco anos atrás, a realidade era outra. ;Hoje, o mercado é um pouco mais aberto a novos autores. Há alguns anos, aí podemos utilizar autores como Vianco e Spohr como exemplo, escritores nacionais de fantasia não eram best-sellers ,e nem editoras nem leitores confiavam tanto neles como atualmente;, resume.
Fada Mel
Mesmo dentro do gênero fantasia, o público é bastante diversificado. Distante das batalhas épicas e confrontos violentos, o livro A fada, de Carolina Munhoz, paulista de 22 anos, vencedora na categoria literatura do Prêmio Jovem Brasileiro 2011, é uma história de esperança diante de dificuldades.
A inspiração que Harry Potter deu a Carolina foi tanta que até a cidade onde a trama se desenrola é a mesma onde o bruxo morava: Londres. ;Eu sempre fui apaixonada pelo local, pela história do Rei Arthur. Harry Potter intensificou e resolvi usar Londres como cenário. Antes de relançar o livro por uma outra editora, passei um mês lá e usei essa experiência para colocar mais detalhes na obra;, comenta Carolina.
As aventuras da personagem principal, a fada Mel, surgiram na imaginação dela aos 16 anos. Quatro anos depois, a história foi publicada e reeditada. ;Eu nunca tive uma conexão muito grande com fadas, mas esse livro veio para mim em um sonho e no outro dia eu comecei a escrever.;
Já Bruna Torres não é escritora, mas é fã da obra de André Vianco. Aos 6 anos, leu Chapeuzinho Vermelho e, alguns anos depois, As aventuras de Robson Crusoé. Conheceu a obra de Vianco por meio de um parente. ;Meu primo tinha uns 12 anos e lia a série que começou com Os sete. Ele me falava tanto dela que me interessei e acabei até presenteando amigos com livros do André. Até o meu namorado, que não lia nada, tomou gosto pela leitura. Hoje, conheço o André Vianco pessoalmente e sempre o encontro quando ele vem a Brasília;, completa.
Leitora dedicada, a brasiliense de 25 anos põe Vianco no patamar dos melhores escritores brasileiros. ;São livros de excelente qualidade, que merecem leitura. Indico para todas as idades. São cheios de detalhes, personagens e histórias fascinantes;, descreve.