Na abstração dos traços de Helvécia Moura, existe algo de figurativo, mas é preciso olhar com cuidado para perceber as cidades invisíveis, com suas casinhas coloridas ou monocromáticas, as ruas tortuosas e os diferentes cenários que envolvem o ambiente urbano criado pela artista maranhense, na mostra que será aberta nesta terça-feira (3/1), às 19h, no Espaço Chatô.
Sobre as cidades que permeiam o imaginário, a pintora explica que não busca uma definição. ;Não é São Luís. Chamei a exposição de Cidades invisíveis porque, ao ler o livro homônimo do Italo Calvino, imaginei uma cidade que fica no emocional. Não é cidade nenhuma, mas são todas as cidades;, explica.
E ela reconhece uma certa influência de Brasília. Apontando uma pintura com várias tonalidades de azul, conta que chamaram sua atenção para a posição do quadro. ;Disseram que estava de cabeça para baixo, mas eu disse que não. A influência que sofro de Brasília não é a Catedral nem o Congresso. Esses lugares são muito evidentes. Acho mais marcante o céu onde voa uma pombinha do Athos Bulcão. Brasília tem céu em todo lugar;, observa.
Formada em sociologia e antropologia, Helvécia conta que, desde pequena, era destaque em artes plásticas. ;Eu vivia fazendo oficinas artísticas durante a graduação, mas parei. Só voltei a isso depois que fiz um curso de arteterapia com Susan Bello;, conta.
Helvécia estudou aquarela, acrílica e técnica mista com artistas plásticos de Brasília, como Pompéia Cascão e Lourenço de Bem. Também aprendeu técnicas de pigmentos e, com Israel Kislanski e Mônica Chavarria, encantou-se com o trabalho de esculturas. ;Acho que o sonho de todo artista é ter uma linguagem própria, algo que o torne facilmente reconhecido;, opina.
A artista diz que nunca termina de pintar um quadro. ;Refaço 200 vezes. Meus filhos tentam escondê-los de mim para que eu não faça mais alterações, brincam que eu seria capaz de ir à minha própria exposição com o pincel para pintar um quadro que não acho que esteja pronto;, comenta sorrindo.
Como afirmava Picasso, ;são inúmeros quadros dentro do quadro;. E ela constrói e desconstrói suas telas, modificando traços, incluindo e excluindo tudo o que possa ser transformado: cores, formas, volumes, iluminação. ;Todos os meus quadros já foram outros quadros;, garante. ;Sou capaz de ver diferenças de um dia para o outro. Tem dias em que olho para um quadro e acho tão triste, ou vejo uma rua que não tinha percebido antes, daí pego o pincel e refaço o que me incomoda.;
Além de Picasso, Helvécia se diz ;loucamente apaixonada; por Hundertwasser e Paul Klee. Não que sofra influências desses artistas ; é apenas grande admiradora. E se Gilberto Gil defendia que o verdadeiro amor é vão, ela afirma que a arte também é vã. Talvez a aparência seja a realidade: a arte é o verdadeiro amor da artista maranhense. ;Douglas Marques de Sá me aconselhou a nunca deixar a pintura, não por uma questão de fama, mas porque é um bem que só depende de mim e que vai me acompanhar até a velhice. A arte é algo muito forte.;
CIDADES INVISÍVEIS
Exposição de Helvécia Moura. Abertura nesta terça, às 19h, no Espaço Chatô (sede do Correio, SIG Q. 2, Lt. 340). Visitação de amanhã a 20 de janeiro, de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h. Entrada franca.