A sul-coreana Jennifer Yuh Nelson, radicada nos Estados Unidos desde pequena, tornou-se a primeira a comandar um desenho a bordo de um grande estúdio: Kung fu panda 2, da DreamWorks (de Shrek), arrecadou US$ 663 milhões e é uma das 50 maiores bilheterias da história. Mais recentemente, a britânica Sarah Smith, experiente produtora e roteirista de comédias adultas, lançou Operação presente, pelo selo Aardman, conhecido pelos filmes de stop-motion, como Wallace e Gromit e Fuga das galinhas.
O cinema brasileiro acompanhou a tendência timidamente, com produções como Brasil animado, da paulistana Mariana Caltabiano, primeiro longa-metragem nacional feito em 3D. Já Brasília segue o movimento de um jeito bastante particular. No ano passado, na primeira vez em que o Festival de Cinema da cidade acolheu uma mostra competitiva de curtas de animação, quatro mulheres, de um total de 12, competiram pelo Candango. A mineira Natália Cristine, de 26 anos, que concorreu com Cafeka, acredita que, tanto no cinema como na publicidade, o portfólio feminino é visto com alguma reticência. ;Quando avaliam, acham que é coisa de menininha;, conta. ;Já ouvi gente dizendo que, quando é de mulher, só tem cachorrinho, bichinho.
Mas não é assim. Menina também pode fazer coisas como dragões e robôs. Meu filme, por exemplo, tem uma estética do bizarro;, acrescenta.
Rabisco experimental
As brasilienses Raquel Piantino e Juliet Jones, com pouco tempo de formadas, têm em comum um traço artesanal. Raquel, 24 anos, é graduada em artes plásticas na Universidade de Brasília (UnB) e desenvolve esboços feitos a mão, sem retoques digitais. ;Minha pesquisa é muito ligada à videoarte. O que faço é um desenho quadro a quadro. No computador, eu apenas faço a edição final, monto e, às vezes, incluo cor. Mas procuro fazer sem muita interferência de programas;, detalha. Em 2009, ela ganhou prêmio de melhor animação com Giro, no Festival Internacional de Filmes Curtíssimos.
Atualmente, depois de experiências com projetos experimentais e uma exposição, ela planeja um curta de produção independente, em parceria com Juliet, inspirada em As mil e uma noites, e outro com recurso obtido via Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Dificuldades no mercado para as mulheres? Para ela, autônoma, nem tanto. Mas a artista nota algumas saudáveis divergências de linguagem. ;A maioria dos desenhos animados é feita por homens. No independente, isso não faz tanta diferença. A animação de tevê geralmente é mais masculina, como coisas da Walt Disney e outros produtos. No meu caso, busco simplicidade, um desenho rápido, econômico, sem falas ou diálogos;, descreve.
Egressa do curso de cinema e mídias digitais do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), Juliet Jones, 26 anos, também crê na sobrevivência da animação independente. ;Quero acreditar na possibilidade de ser autossuficiente;, diz a diretora, que se especializa na área. A maioria masculina, de alguma maneira, ainda intimida. Mas ela percebe que o aumento do número de mulheres em outras áreas, como os quadrinhos, tem modificado o campo. ;Há sempre um aspecto misógino em algumas artes, na comunicação. É complicado. Mas as mulheres estão se tornando supermulheres. Há cinco anos, era mais difícil encontrar quadrinistas, por exemplo. Hoje, elas encarnam um papel de artistas profissionais. Elas são sensíveis. De alguma forma, captam um universo que, muitas vezes, escapa aos homens. Estão predispostas biologicamente para essa sensibilidade, para essa sutileza;, analisa.
Juliet é apaixonada pelos ângulos extremos e pelas linhas inclinadas do expressionismo alemão, e tenta levar essa referência para seus trabalhos. Além do projeto que divide com Raquel, finaliza um curta chamado Os pontos e elabora, ao lado da parceira de roteiro Tamara Costa, uma série animada sobre ;o que é ser mulher no planeta;. ;Seriado precisa de equipe gigantesca. Pesquisamos sobre o assunto há três anos. Infelizmente, teríamos que ir para o Canadá ou Estados Unidos para que a coisa fluísse de vez. Mas o ;start; já foi dado;, diz.