Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Ana Maria Magalhães mergulha na criação de Affonso Eduardo Reidy

A atriz e cineasta Ana Maria Magalhães levou a ferro e fogo a máxima do Cinema Novo, movimento do qual participou ativamente como atriz. Uma câmera na mão, uma ideia na cabeça e um pedido feito pela viúva do arquiteto Affonso Eduardo Reidy, a engenheira Carmen Portinho. ;Ela é minha tia e sempre me pedia para fazer um filme sobre o marido. Quando ele morreu, eu tinha 14 anos. Íamos à casa deles na minha infância. Eles eram muito modernos. Os sobrinhos adoravam. Era completamente diferente do que se fazia na época. Eles não se casaram, eram artistas, gostavam de arte abstrata. Reidy era um homem muito cordial, muito afável;, resume a diretora.

O filme que Carmen tanto sonhava ver realizado recebeu o título Reidy, a construção da utopia. As gravações começaram a ser feitas durante a década de 1990 (com entrevistas com a própria engenheira e com o urbanista Lucio Costa), mas somente agora entrou em cartaz nos cinemas. Antes de conseguir realizá-lo, Ana, 61 anos, estrelou filmes, trabalhou como montadora e produtora, inclusive nos longas-metragens com sua assinatura (o último a lançado foi a cinebiografia da atriz Odete Lara, em 2002).Tudo isso serviu para estabelecer as linhas que ela seguiria nesse retrato sobre um dos grandes arquitetos praticamente esquecido pelos brasileiros. ;Sou muito sensível à questão do artista no Brasil. Eles não têm o reconhecimento que merecem. Reidy, por exemplo, não é conhecido nem pelas pessoas que usam as obras dele, como o Parque do Flamengo. Minha preocupação era trazê-lo para a atualidade. Se eu fosse fazer a história de um arquiteto do passado no passado, o filme teria um valor histórico apenas. Preferi tratar das questões urbanas que nos afetam, o problema dos transportes público, habitação e a consequência do aumento da violência;, defende.

O trabalho de pesquisa, que teve de ser realizado pela diretora, a levou a conhecer em profundidade o urbanismo no Brasil comparado ao resto do mundo. ;A arquitetura tem de se relacionar com a cidade. Não se pode levar em conta somente o prédio. É a relação dele com o seu entorno. Reidy fazia isso muito bem;, analisou Ana.