São Paulo ; Recanto, o novo disco de Gal Costa, é uma obra de Caetano Veloso. Foi ele quem criou o conceito, compôs as canções, arregimentou os músicos, escolheu o arranjador e, obviamente, produziu o álbum, com o auxílio do filho Moreno Veloso. Tudo isso para colocar em destaque o timbre inigualável da maior cantora do país. O eterno tropicalista não faz rodeios: ;Esse é meu trabalho composicional de agora. Ao fazê-lo, pensei nos sons eletrônicos envolvendo a voz de Gal;, afirma, categórico, o compositor baiano.
Caetano vem fazendo mais por esse projeto. Na entrevista que os dois concederam no fim da tarde de quarta-feira, em São Paulo, ele foi hegemônico nas falas, discorrendo sobre cada etapa da concepção do Recanto. ;É inegável que esse é um projeto arrojado, à altura de uma intérprete que, desde a Tropicália, sempre se colocou na vanguarda da música brasileira;, afirmou.
O projeto começou a ser pensado no primeiro semestre do ano passado, quando Caetano assistiu a uma apresentação de Gal em Lisboa, interpretando um repertório em que predominavam músicas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Na volta ao Brasil, ele deu início ao processo das composições que, aos poucos, ela foi tomando conhecimento.
;Em praticamente todos os meus discos tem músicas de Caetano. Ele sempre propôs coisas experimentais e instigantes para eu cantar. Portanto, não houve estranhamento quando ele foi me mandando, via mp3, cada uma das novas canções. Aí, eu e Moreno íamos tirando a tonalidade. Comecei a aprender melhor as músicas. Depois de escolher as sonoridades, Moreno repassava para Caetano;, explica Gal.
Inditas
Das 11 faixas do Recanto ; todas de Caetano ; nove são inéditas, entre as quais, Tudo dó, Cara do mundo, O menino (feita pensando em Gabriel, o filho de Gal), Sexo e dinheiro (a última a ser composta), Miami Maculelê e Neguinho, candidatíssima a hit. A elas se juntaram a bela Mansidão, gravada há 10 anos por Jane Duboc; e Madre Deus, feita para o balé Onqotô, do grupo Corpo, que ganhou registro de Zé Miguel Wisnik.
Recanto contou com a participação de instrumentistas da nova geração com os quais Caetano tem dialogado ultimamente: Pedro Sá (guitarrista da Banda Cê), o tecladista Donatinho, Rabotnik, Bartolo (um dos componentes do Duplex) e Kassin. ;Eu conheço muito Kassim e já esperava que fosse fazer algo desse jeito. Eu logo apresentei Tudo dói, a primeira música que compus. Ele adorou e ficou estimulado para fazer assim uma coisa que achava radical e mandou as bases sem nada, sem nenhum adoçante;, contou Caetano.
Sobre o experimentalismo de Kassim, Gal se posicionou: ;Foi um lado experimental meio diferente de todos os experimentalismos que já fiz. Mas eu não tenho medo nenhum de ousar. Acho até bom, saudável. Mesmo cantar, colocar a voz guia naquelas bases duras, toscas, para mim, foi bom. Tudo dói nessa base dura foi a mais deliciosa de cantar. Ela e Recanto escuro;.
Lançamento da gravador Universal Music, Recanto, que chega às lojas terça-feira, vai virar show, também com direção de Caetano Veloso. A estreia será numa casa de shows a ser inaugurada em breve no Rio de Janeiro, com capacidade para 300 pessoas. No palco, Gal Costa terá a companhia de um trio e ao repertório, com base no novo CD, serão agregadas canções que marcaram a trajetória da cantora, como a tropicalista Baby, Meu nome é Gal, Vapor barato e Um dia de domingo. ;Imagino que, no show, músicas como Neguinho e Miami Maculelê têm tudo para impactar o público;, acredita . Devidamente remixada, Miami Maculelê tem tudo para bombar nas pistas de dança.
O repórter viajou a convite da Universal Music.