Quando Newton Carlos assumiu a editoria de internacional do Jornal do Brasil, cargo que ocupou até 1964, encontrou uma prática de cobertura muito diferente da que se vê, lê e ouve atualmente nos veículos de comunicação brasileiros. Os acontecimentos estrangeiros chegavam aos jornalistas em notícias produzidas por agências internacionais ; americanas e europeias. E espectadores, leitores e ouvintes tinham contato com um produto informativo, mas impessoal, que reproduzia uma visão muito geral dos fatos. ;Na época, tínhamos poucos jornalistas e comentaristas na área internacional. Depois, as viagens ficaram mais fáceis, o número de correspondentes e enviados especiais aumentou e os jornais passaram a ter uma visão própria do que acontecia em outros lugares;, ele lembra. Nos textos editados em De olho no mundo, sétimo livro do carioca de 84 anos, ele revela um olhar particularmente brasileiro sobre eventos e mudanças históricas continentais.
Hoje, articulista quinzenal do Correio (colaborador de Opinião), Carlos descobriu a vocação para lidar com assuntos estrangeiros quando iniciou carreira no jornalismo. Na década de 1960, trabalhou dois anos na Bélgica, na sede da Confederação Internacional dos Sindicatos Livres. De volta ao Brasil, foi editor de mundo no Jornal do Brasil e depois cronista da Folha de S. Paulo por 25 anos. Além de contribuir com outros veículos impressos, foi comentarista na televisão, principalmente na Bandeirantes, e no rádio.
A experiência, diz ele, o levou a dar mais espaço para a vizinhança, antes timidamente noticiada. ;Cada vez mais, consegui abrir espaço para anunciar coisas da América Latina. Hoje, você pode notar que temos correspondentes, sobretudo, na Argentina, que passou a ser um ponto de referência em relação à política latino-americana;, define. Ele cobriu, por exemplo, o golpe de Augusto Pinochet em 1973, que levou a morte do então presidente do Chile, Salvador Allende. O episódio ganha crônica histórica no livro.
Nilton Carlos acompanhou e comentou intensas movimentações nas últimas décadas, como a amarga situação pós-Segunda Guerra da Europa e a rivalidade ideológica entre Estados Unidos e União Soviética. Vendo o Brasil atual como um gigante na política internacional, ele defende uma cobertura do estrangeiro igualmente ambiciosa. ;Estamos na vanguarda do que acontece no mundo. E é preciso que os brasileiros conheçam muito bem o que se passa no mundo. A América Latina inspira um interesse crescente dos veículos;, explica.