Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Ney Matogrosso volta a Brasília para reapresentar o show Beijo Bandido

Quando, em novembro de 2009, estreou a turnê de Beijo Bandido, numa casa de espetáculos paulistana, Ney Matogrosso achou quase impossível bater o recorde de apresentações de Inclassificáveis, o show anterior que ficara um ano e meio em cartaz. O cantor, porém, se enganou. ;Para minha surpresa e alegria, estou na estrada com esse novo projeto há praticamente dois anos, cantando sempre para grandes plateias. No feriado de 15 de novembro, por exemplo, cantei para uma multidão, debaixo de chuva, na Praia de Icaraí, em Niterói.;


Ao ser apresentado em Brasília no ano passado, Beijo Bandido teve todos os ingressos esgotados. Por isso, Ney está de volta hoje ao palco do Auditório Master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Com registro em CD e DVD ; a gravação, ao vivo, ocorreu no Theatro Municipal do Rio de Janeiro ; o show mantém o mesmo frescor de quando foi concebido.


O repertório que privilegia canções explicitamente românticas ; resultado de criteriosa seleção, feita pelo cantor ; reúne desde clássicos da época de ouro do rádio, como Da cor do pecado (Bororó), Segredo (Herivelto Martins e Marino Pinto), De cigarro em cigarro (Luiz Bonfá) e Tango pra Tereza (Evaldo Gouveia e Jair Amorim), até músicas de compositores contemporâneos, entre as quais Invento (Vitor Ramil), Mulher sem razão (Cazuza, Dé Palmeira e Bebel Gilberto) e Nada por mim (Herbert Vianna e Paula Toller). Destacam-se, também, Poema dos olhos da amada (Vinicius de Moraes e Paulo Soledade), A distância (Roberto e Erasmo Carlos) e Fala (João Ricardo e Luhli) ; hit setentista do grupo Secos e Molhados.


No palco, usando figurino ; digamos, sóbrio ;, assinado por Ocimar Versolato, Ney tem a companhia de Leandro Braga (piano), Lui Coimbra (cello e violão), Alexandre Casado (violino e bandolim) e Felipe Roseno (percussão). O quarteto reedita no show a sonoridade acústica do CD e DVD, com um viés pop, bem ao gosto do intérprete.


Cordial, franco e sem subterfúgios, Ney falou ao Correio e encarou com naturalidade todas as questões colocadas. Aos 70 anos, 40 de carreira, demonstra ser um artista inquieto, atualizado com o que ocorre ao redor, e sempre pronto para enfrentar novos desafios e surpreender. Veja a seguir trechos da entrevista:

Ney Matogrosso // ponto a ponto

Composição do repertório
;Antes do fim da turnê do Inclassificáveis, já havia começado a pensar no próximo projeto. Para compor o repertório, pensei em canções que sempre gostei, mas que ainda não tinha gravado. Me lembrei de A distância, do Roberto e Erasmo, que ouvi numa versão italiana na trilha do filme Violência e paixão, de Visconti, com Burt Lancaster. Nada por mim (Herbert Vianna e Paula Toller), eu cantei com Marina Lima num evento no Rio de Janeiro. Para Bicho de sete cabeças (Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e Renato Rocha), um dos pontos altos do show, fiz uma nova versão, que ficou próxima de um choro. Já A cor do desejo, a única inédita do álbum, me foi dada pelo Júnior Almeida, um compositor de Maceió. Assim que a ouvi, achei que tinha tudo a ver com a proposta do projeto. O título do trabalho foi tirado de Ivento, música de Vitor Ramil.;

Vendagem de discos
;Na década de 1980, os LPs que eu gravava vendiam bem. Sei porque quase sempre recebia disco de ouro. O último álbum que teve boa vendagem foi o Vivo ; Olhar de farol, de 2000. Agora, com a indústria fonográfica em baixa, fica tudo muito difícil. As gravadoras deviam ter combatido de forma eficaz a pirataria no começo. Agora, é quase impossível. E tem essa coisa de baixar música pela internet. Quem faz isso, em relação ao meu trabalho,
está tirando meu sustento,
pois vivo disso.;

Era digital
;Não tenho Facebook, blog, Twitter. No máximo, um e-mail pessoal, ao qual poucos têm acesso; e um site em que são divulgadas informações sobre meu trabalho. Mas não acho que a internet só tem coisas toscas. Ela é apenas uma nova possibilidade de comunicação, uma mídia moderna. Coisas ruins, de baixo nível já se ouvia no rádio, em outros tempos.;

Sangue novo
;Quando começo a selecionar o repertório para um novo trabalho, já penso no show, na luz que vou usar, no cenário. Para mim, o show está sempre em primeiro lugar. Depois é que vem o disco. Tenho um esboço em mente do que pretendo para o próximo. Já recebi músicas do pessoal da banda carioca Tomo e da paulista Zacomb; e de um compositor de Maceió, chamado Vitor Piralles. Tudo gente nova. Ouvi falar muito bem do Criolo e vou procurar ouvi-lo.;

Loucuras no palco
;Continuo sendo assediado e isso ocorre, geralmente, depois dos shows, no camarim. São aquelas pessoas que ficam excitadas com o que viram e ouviram, mas sei lidar com essa situação. O que me surpreende é a presença na plateia de espectadores mais novos, que geralmente são mais afoitos, mais liberados. Em alguns lugares, ouço loucuras durante a apresentação, algo ligado à sexualidade, mesmo. Nada, porém, que me desestabilize. Levo tudo na brincadeira. Não acho que devo usufruir de tudo o que
me é oferecido.;

Brasília na formação
;Hoje em dia, tenho poucos amigos em Brasília. Muita coisa mudou em relação ao tempo que morei aí. A cidade se transformou numa grande metrópole e a que vivi tinha não mais que 50 mil habitantes. Mas me orgulho de ter vivido em Brasília, onde me descobri como gente, como artista.;

A presidente Dilma
;A presidente Dilma tem demonstrado pulso firme, demitindo quem tem que demitir, não compactuando com a corrupção. Ele é benquista, continua tendo o apoio do povo que a elegeu.;



BEIJO BANDIDO
Show do cantor Ney Matogrosso, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Hoje, às 20h, Ingressos: R$ 150 (poltrona VIP); R$ 100 (poltrona lateral, poltrona especial, poltrona especial); e R$ 60 (poltrona superior). Valores de meia-entrada. Assinantes do Correio têm 50% de desconto na compra de ingresso inteiro (cupom Sempre Você). Informações: 8130-6681. Não recomendado para menores de 16 anos.