Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Lô Borges lança novo disco com a participação especial de cantores de peso

Às vésperas dos 40 anos do Clube da Esquina, Lô Borges lança seu 11; disco solo, Horizonte vertical, e o dedica ao filho Luca e à sua geração. Luca tem 13 anos e gosta mesmo é de AC/DC. Lô tinha 18 quando estreou como cantor e compositor, ao lado de Milton Nascimento, dando início ao movimento mineiro que marcou a MPB. Hoje, aos 59, acha muito bacana ter participado do antológico álbum duplo de 1972 ; diz até que subiria ao palco para eventuais comemorações (;se o convite partir de Milton;), mas está mais interessado em mostrar ao filho que não ficou parado no tempo. Nos últimos oito anos, ele compôs pelo menos 60 canções, registradas em quatro CDs de inéditas. ;Daqui a dois meses, já devo começar outro disco;, ri.

Lô Borges sempre gostou de transitar entre diferentes gerações. ;Milton, mesmo, era 10 anos mais velho do que eu, tínhamos formações musicais bem diferentes;, comenta o compositor, que, aos 17 anos, chegou a tocar (no violão) Um girassol da cor do seu cabelo para Dorival Caymmi e, na década de 1990, teve a honra de ser gravado por Tom Jobim (O trem azul, uma das faixas do Clube da Esquina, entrou no álbum Antonio Brasileiro, o último do maestro). ;Quando fui morar no Rio, as pessoas que me encontravam muito no Sacha;s eram o (cantor) Cyro Monteiro e o (compositor) Fernando Lobo, pai de Edu Lobo.;

Em Horizonte vertical, além de contar com a participação de Milton Nascimento, Samuel Rosa e Fernanda Takai em várias das 12 faixas, Lô inicia uma parceria um tanto especial para ele, com a escritora e musicista Patrícia Mães. Cinco letras do novo CD são assinadas por ela. Letrista bissexto (;Sou muito arranjador;, justifica), ele conta que estava com sete músicas prontas quando Patrícia, à época sua namorada e moradora de São Paulo, foi visitá-lo em Belo Horizonte. ;Ela escreveu em dois dias as cinco letras que faltavam. Adorei as letras e isso acabou sendo motivador para a gente levar uma vida junto e tal;, revela. (Sim, eles hoje moram juntos.)
[SAIBAMAIS]
Entre amigos
Compostas de um ano e meio para cá, as 12 faixas do novo álbum incluem duas parcerias com Ronaldo Bastos (De mais ninguém e On Venus, esta em inglês) e duas com o irmão Márcio Borges (Antes do sol e Quem me chama), além da faixa-título, composta por ele e Samuel Rosa com letra de Nando Reis (o mesmo trio de Dois rios, sucesso do Skank). Samuel, aliás, já é ;companheiro velho de guerra;. Ele e Lô fizeram cerca de 70 shows juntos ; o primeiro foi em 1999 ;, um cantando as músicas do outro. Estão sempre compondo e são amigos do tipo que saem para brincar com as crianças (o vocalista do Skank tem um filho da idade de Luca).

No CD, além de aparecer nos créditos como coautor, Samuel Rosa canta, toca violão e guitarra em três faixas. Já Milton Nascimento comparece em duas. Uma é Mantra Bituca, presente para ele (que, afinal, foi quem ;descobriu; Lô) com direito a coro infantil (incluindo as vozes de Luca e do filho de Samuel). ;Milton retribuiu a homenagem na mesma gravação. Enviei o arquivo e ele me mandou de volta com aquela cantiga no fim: ;Oi, Lô!’;, comenta. A outra é Da nossa criação, uma ;balada beatle;, como ele diz. Beatlemaníaco, do tipo que ia para a porta da loja esperar o disco do quarteto chegar, Lô afirma que, mesmo quando não faz música para os rapazes de Liverpool (fez 12), eles estão lá, ;no DNA do compositor;. ;Aprendi com eles a cantar, a compor, a arranjar.;

Surpresa, mesmo, foi a presença de Fernanda Takai em quatro músicas do disco. Lô diz que eles não se conheciam até uns dois anos atrás, quando cantaram juntos O girassol da cor do seu cabelo num show na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte. ;Quando eu estava compondo, ficava escutando uma voz feminina;, lembra. ;Até que me veio isto: ;Ah, é a Fernanda;. Aí, fui com jeitinho, chamei para uma faixa, ela topou. Quando chegou ao estúdio, contei que ficava imaginando uma voz feminina em algumas músicas. E tudo que mostrei, ela gravou (risos).;

O título do CD quem deu foi Nando Reis, ao batizar a canção. Mas Lô gosta de brincar com significados. ;Horizonte é a minha composição, e vertical, a minha determinação de continuar compondo;, diz ele, que no estúdio teve a companhia de apenas dois músicos, Barral e Robinson Matos. Chegou a gravar uma faixa com banda completa, mas não gostou do resultado. ;Queria arranjos mais meticulosos, não era 1, 2, 3, 4 e todo mundo tocando. Aí resolvi fazer só com os dois, que são multi-instrumentistas;, explica. Lô ficou com o violão e o piano acústico, enquanto Barral revezou-se nas guitarras, nos sintetizadores e no baixo, e Robinson, na bateria e na percussão.

Qualquer dia desses, Luca, quem sabe, entra na banda. Já toca um pouco de guitarra e violão e, vez ou outra, segundo o pai, insere Clube da Esquina n; 2 entre uma do Jimi Hendrix e outra do Guns;N;Roses.

Três perguntas - Lô Borges

Em Horizonte vertical, você retomou o piano como instrumento de composição... Por quê?
Eu vinha compondo só no violão, mas em Harmonia, disco que lancei em 2009, entraram duas músicas feitas no piano. E pensei: ;Ah, o piano sempre foi tão generoso comigo... Chegou a sua vez, cara;. Para Lennon e McCartney e O girassol da cor do seu cabelo, por exemplo, são dois sucessos do início da carreira que fiz no piano. É um instrumento mais completo, para fora, comparado ao violão, que é mais introspectivo. Mas, para mim, piano é uma nascente de canções. Só uso para compor. Instrumentista, mesmo, eu só me considero com a guitarra ou o violão. Nesses, consigo tocar todos os gêneros, do axé à bossa nova, de Chico Buarque a Jimi Hendrix. Já no piano, além das minhas músicas, só sei The long and winding road (risos).

Você faz da composição um exercício, tem alguma rotina para isso?
Sim, a gente tem que estar disponível pra música. Para compor o tanto que compus de 2000 pra cá, e eu praticamente dobrei minha produção como autor, é preciso ter dedicação. E, diferentemente do que o pessoal imagina, que músico é notívago e tal, comigo é o oposto. Gosto de dormir às 23h e acordar às 7h. Às 9h, já estou compondo. Meu horário de composição é das 9h ao meio-dia.

Você tem um ;baú;, costuma guardar pedaços de canções para terminar depois?
Praticamente nem uso gravador. Algumas coisas, às vezes, gravo num celular para não perder. Tenho um ritmo: componho e, depois que a música ficou pronta, ligo para o estúdio e marco a gravação. Não gosto de ficar com música parada dentro de casa.

Ouça a música Horizonte vertical do novo CD de Lô Borges: