A 30; Feira do Livro de Brasília ocupa a partir de sexta-feira (11/11) o Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade com uma edição reduzida, abalada pelas brigas políticas que estremeceram a Câmara do Livro do Distrito Federal e os efeitos do corte de verbas. Mais uma vez, não foi fácil montar a feira. A Câmara do Livro ainda não tem em mãos os R$ 250 mil de uma emenda parlamentar. A programação foi montada com o dinheiro obtido da venda dos estandes e da boa vontade resultante de uma peregrinação por sete embaixadas em busca de parceria, além de uma contribuição da Petrobras. ;A maior dificuldade que tivemos com a feira foi a liberação de recursos;, constata Íris Borges, curadora do evento.
A Secretaria de Cultura ficou de fora do evento, mas o Governo do Distrito Federal contribuiu com apoio para publicidade e desconto de 80% no aluguel do Pavilhão de Exposições. Nem mesmo a secretaria de Educação, que em outras edições teve participação importante com a inclusão de alunos da rede pública nas atividades da feira, participou desta 30; edição.
Hamilton Pereira, secretário de Cultura, avisa que está concentrado em fazer ;políticas públicas; e que a feira é evento do setor privado. Pereira lançou este ano o Plano do Distrito Federal do Livro e da Leitura e pretende, em 2012, realizar uma Bienal do Livro com editoras de todo o Brasil e do exterior. ;Nós temos o plano do livro, estamos procurando dar conta da reestruturação interna do setor público, dentro de limites muito severos do ponto de vista orçamentário.;
Homenagem
Este ano, a feira tem como patronesse a jornalista e escritora Dad Squarisi, colunista do Diversão, e homenageia o autor Ronaldo Cagiano. Será uma edição concentrada na literatura infantojuvenil. A lista de convidados tem quantidade significativa de autores e ilustradores, o que ajuda a configurar um perfil, ainda que tímido, para a 30; edição. Marina Colasanti, Bartolomeu Campos de Queirós, Laura Muller, Nicolas Behr, Margarida Matriota, Ilan Brenman, Tino Freitas, Lucília Garcez e Carlos Maltz integram a lista de brasileiros.
Entre os estrangeiros, os convidados são praticamente desconhecidos em solo brasileiro. Muitos deles nem sequer publicaram em português e quase todos foram escolhas das embaixadas dos respectivos países. Como os organizadores da feira não contavam com orçamento suficiente para permitir margens de negociação, precisaram aceitar as propostas. ;Com todas as dificuldades, estamos conseguindo fazer a feira possível;, avisa Íris.
Entre os 65 estandes do evento, apenas 19 são realmente de livrarias. Os outros foram ocupados por lojas ou instituições que aproveitam para realizar campanhas de divulgação e vender suas publicações. De acordo com Íris, o cenário é reflexo do mercado livreiro de Brasília. A curadora também tentou trazer para a feira as livrarias de rede instaladas na cidade. ;Mas é difícil para eles quebrarem o padrão do funcionamento. Não podem montar um estande simples, precisam montar com o padrão da loja e não têm infraestrutura para fazer isso;, explica.
30; Feira do Livro de Brasília
Abertura amanhã, às 19h30, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade. Visitação até 20 de novembro, diariamente, das 10h às 22h.
Destaques da programação
Instituto Cervantes
; O instituto participa da feira pela primeira vez com programação que inclui lançamentos de livros, contação de histórias em espanhol, oficinas de jogos e palestras destinadas a educadores e profissionais da área do livro.
Philippe Davaine e Lenny Werneck
; O ilustrador francês trabalhou com a escritora brasileira em Onde está você, Iemanjá? e se apaixonou pelo Brasil. O livro conta a história de uma menina que sai em busca de Iemanjá na noite de ano-novo. Davaine ilustrou o livro. Na França, o artista ilustrou edições importantes de clássicos como Poil de carrotte (Jules Renard) e Cyrano de Bergerac (Edmond Rostand).
Boniface Ofogo
; Nascido na República de Camarões e radicado na França, Ofogo é autor de O leão Kandinga e outros livros infantis, a maioria sobre afro-descendência, tema que deve guiar a conversa durante o encontro com leitores na Feira do Livro.
Laura Muller
; Especialista em livros sobre sexo para crianças e adolescentes, a autora é rosto frequente em programas de televisão destinado a jovens. Psicóloga e educadora sexual, ela mantém três colunas sobre o tema em jornais de São Paulo e publicou 500 perguntas sobre sexo do adolescente.
Eloisa Cartonera
; Formado por uma cooperativa de autores e leitores do bairro Boca, de Buenos Aires, o grupo recolhe papéis juntados por catadores de rua, recicla e imprime livros que vão desde clássicos até autores contemporâneos. Para a feira, os argentinos prepararam oficinas e palestras, além de um bom estoque da produção própria.
Marina Colasanti
; Autora de mais de 30 livros e ganhadora do Prêmio Jabuti do ano passado por Passageira em trânsito, a escritora tem vasta bibliografia destinada ao público infantojuvenil.
Quatro perguntas - Hamilton Pereira A Secretaria de Cultura lançou este ano o Plano do Livro e da Leitura (PLL), mas cancelou uma bienal de poesia e quase não se envolveu com a Feira do Livro. Por quê?
A feira é uma iniciativa louvável, merece todo respeito, mas é uma ação da sociedade, do setor livreiro. Estamos dando uma modesta contribuição na forma de serviços. A Bienal de Poesia não saiu porque os responsáveis não captaram o dinheiro. O que faço é política pública. Suspendi um evento e propus um projeto estruturante que é o PLL. Dentro desse projeto está inserida a Bienal do Livro, com editoras locais e nacionais.
Por que criar um novo evento em vez de investir, reforçar e criar parcerias com o que já existe?
Porque a feira é um evento do setor privado.
Mas as editoras também são do setor privado;
Não tenho o menor problema com as editoras. Não queremos atrapalhar o negócio de ninguém, mas temos o direito, como poder público, de propor, dentro do Plano do Livro e da Leitura, um evento diferente da proposta da feira. Não temos nada contra a feira.
Mas houve tempo em que havia uma parceria que gerava atividades como a visita de autores às escolas públicas, a leitura dos livros desses mesmos autores pelos alunos. A feira era uma iniciativa do setor privado mas com grande aproveitamento do setor público;.
Isso é um problema da Secretaria de Cultura e do GDF. Nós trabalhamos no sentido de estabelecer pontes para que os promotores da feira dialoguem com as secretarias de Turismo, Educação e Cultura. Esse é o nosso papel. De mediador. Não temos orçamento para a Feira do Livro. E a Câmara do Livro tinha pendências com relação à Secretaria de Educação.