Diversão e Arte

Passagem dos 100 anos de Nelson Cavaquinho é marcada por homenagens

postado em 29/10/2011 08:00
Década de 1930, Rio de Janeiro. O soldado da polícia Nelson Antônio da Silva é designado para fazer rondas a cavalo nos bares do Morro da Mangueira. Porém, entre um boteco e outro, ele conhece os compositores Carlos Cachaça, Cartola e Zé da Zilda. As rodas de samba, animadíssimas, distraem o policial que vê, por duas vezes, o cavalo voltar sozinho para o quartel. Após sete anos na corporação, ele decide mudar de vida, troca a farda pelo violão e se transforma em Nelson Cavaquinho.

Conhecido como poeta da morte, pelas letras sobre temas sombrios, o compositor carioca faria 100 anos hoje e continua como referência da música brasileira. ;A maior contribuição dele é a sua obra, que é a produção de um gênio. Não existe uma música dele que eu não adore;, afirma a cantora Beth Carvalho que, em 2001, gravou o CD Nome sagrado ; Beth Carvalho canta Nelson Cavaquinho só com composições do mestre.

;Ele é especial pelo estilo único, pela linguagem. O tom dark, pesado, e a impressão triste da vida, são postos no samba de forma genial. As letras são pequenininhas, mas maravilhosas. Juízo final não tem nem 10 linhas e diz tudo o que ele pensa da humanidade. Ele é um gênio por saber escrever músicas objetivas, sofisticadas e de apelo popular. Musicalmente o violão dele é inconfundivel, uma marca;, comenta Thiago Marques Luiz, produtor do álbum comemorativo Uma flor para Nelson Cavaquinho ; 100 anos, com vozes de Alcione, Leci Bandão, Teresa Cristina, entre outros.

Garrincha e São Francisco
Apesar do apelido Cavaquinho, Nelson ganhou fama foi com o violão. O instrumento de seis cordas era tocado como se tivesse sete e dedilhado apenas com o polegar e o indicador direitos. O ;beliscar das cordas; criava um som singular. ;Como violonista, ele é tão importante, que eu o compararia a Louis Armstrong e o seu trompete. Ambos tocavam e cantavam de uma maneira particular. Todas as gravações que ouço com músicas do Nelson são lindas, mas distantes da realidade estética dele. É preciso encontrar alguém que execute a obra do jeito mais próximo possível para que ela fique mais autêntica;, comenta o violonista Guinga.

Apelidado por Carlinhos Vergueiro de ;Garrincha do Samba; (pela genialidade, pela ;loucura; e por terem nascido no mesmo dia) e de ;São Francisco do Samba; (pela generosidade com amigos e desconhecidos), Nelson era um homem de fé. Apesar de não frequentar igrejas, rezava sempre pelo costume da mãe, lavadeira do convento das Carmelitas, em Santa Teresa.

O boêmio também foi marcado por fortes paixões e chegou a registrar na pele uma delas. Em Tatuagem, ele diz ;O meu único fracasso está na tatuagem no meu braço;, referência ao nome Lígia, gravado no ombro direito. Vítima de um enfisema pulmonar, o cantor carioca partiu em 18 de fevereiro de 1986, uma semana depois do carnaval, presenteando a música brasileira com sambas inesquecíveis, como Quando eu me chamar saudade, Folhas secas, Agora é tarde e Luz negra. ;Nelson deixou a melancolia das composições (nem todas) e a felicidade de tocar e cantar. Ele dizia: ;Dor, só nas músicas;;, recorda o cantor Jards Macalé, que realiza show só com músicas de Nelson Cavaquinho.


O que ver
Hoje, às 21h30, Musicograma, na TV Brasil.
Amanhã, às 23h, Ensaio, na TV Cultura.
Nelson Cavaquinho (1969), documentário de Leon Hirszman


O que ler
Nelson Cavaquinho ; Enxugue os olhos e me dê um abraço, de Flávio Moreira da Costa (Editora Relume-Dumara, 2000)
Nelson Cavaquinho, de José Novaes (Intertexto, 2003)


O que ouvir
Uma flor para Nelson Cavaquinho ; 100 anos (Vários artistas, Lua Music)
Nome sagrado ; Beth Carvalho canta Nelson Cavaquinho (Rob Digital)
Nelson Cavaquinho 100 anos ; Degraus da vida (Vários artistas, EMI Music)
Carlinhos Vergueiro interpreta Nelson Cavaquinho (Biscoito Fino)

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