Em entrevista ao Correio, a cantora nigeriana (naturalizada inglesa) Sade contou que a vontade de se apresentar no Brasil era antiga. Pela primeira vez no país, ela encontrou um público que correspondeu, reciprocamente, ao desejo da cantora de, finalmente, cantar por aqui. Ao todo, foram quatro shows em solo brasileiro (um deles, fechado para convidados), passando por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Na noite de terça-feira, última apresentação da curta turnê nacional, Sade levou 5 mil pessoas até o Ginásio Nilson Nelson para vê-la e ouvi-la.
Não que todos ali fossem exatamente fãs da cantora, como pôde ser medido pela resposta de parte do público ; inclusive, pasmem, quando Sade cantava alguns de seus hits. Chegava a ser estranho ver essas músicas serem aplaudidas burocraticamente. Independentemente desse detalhe, quem foi ao show ; que começou às 21h50 e terminou às 23h55 ; dificilmente não voltou para casa impressionado.
A voz de Sade, carro-chefe e principal motivo para vê-la ao vivo, continua límpida (potente em alguns momentos, suave na maioria deles) como em seus discos. Bastava fechar os olhos para perceber. Era como ouvi-la no rádio. Ou ainda, no melhor dos aparelhos de som. Mas um show de Sade é mais do que música. É um espetáculo para curtir com olhos, ouvidos e coração.
Multimídia
As canções são acompanhadas por projeções que criam a ilusão de cenários, dando diferentes ambiências para cada número. O sonho foi um tema recorrente. Férias no campo e imagens da cantora e banda em apresentações antigas também deram as caras. Um clima noir, quase davidlynchiano (com estradas sem fim e tempestades) foi recorrente.
As imagens eram projetadas tanto no fundo do palco, quanto em cortinas que desciam do alto da cena. Na primeira música (Soldier of love), Sade e banda surgem de debaixo do tablado. Os praticáveis foram usados algumas vezes para levar a cantora e os músicos para cima e para baixo. Os dois telões ao lado do palco, além de ajudar a ver detalhes do show, exibiam cenas que dialogavam com as projeções.
Durante a apresentação, Sade canta, dança (com uma certa sensualidade) e, eventualmente, se dirige à plateia. ;Vocês são lindos. Por fora e, o mais importante, por dentro;, disse. Ainda que o show tenha todo um aparato audiovisual, o carisma e o talento de Sade brilham mais forte.
A cantora interpretou 21 músicas. Passou pelos maiores sucessos, como Your love is king, Smooth operator, Paradise, Sweetest taboo, No ordinary love, By your side e Cherish the day (que fechou a apresentação, já no bis), por canções do disco mais recente, Soldier of love (lançado em 2010), e por diversos pontos altos da carreira, caso de Jezebel, Kiss of life e Is it a crime.
Pouco antes de deixar o palco, Sade fez questão de apresentar os oito integrantes de sua banda. Destaque para o versátil Stuart Colin Matthewman, espécie de band leader que se revezou entre saxofone e guitarra.
O Brasil teve de esperar mais de 25 anos para ver Sade cantar no país. Uma espera, provaram seus espetáculos, compensada por carisma, talento e coerência musical.