Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Maria de Souza Duarte lança livro sobre a experiência do Teatro Garagem

De meados da década de 1970 até o início da década de 1980, o Sesc da 913 Sul foi o endereço mais quente da cultura em Brasília. Era lá que se armava uma resistência, a um só tempo, organizada, festiva, anárquica, experimental, polêmica, educativa e reflexiva ao sufoco do regime militar. Por lá, nasceram, cresceram ou passaram Os Melhores do Mundo, Vidas Erradas, Asdrúbal Trouxe o Trombone, Chico Expedito, Chacal, Nicolas Behr, o Teatro Oficina (de Zé Celso Martinez Corrêa), Hugo Rodas, Humberto Pedrancini, Jorge Mautner, Jards Macalé, Alceu Valença, o projeto Cabeças, o movimento de cineclubes e TT Catalão. Se a resistência política era alegre, as festas também se tornavam acontecimentos políticos. É essa história que a pesquisadora Maria de Souza Duarte reconstitui no livro duplo Arte educação: o caso Brasília e Arte educação: o caso Garagem (Ed. UnB), a ser lançado no sábado, às 20h, durante a entrega do Prêmio Sesc de Teatro.

O caso Brasília é uma reedição do livro escrito a partir de uma dissertação de mestrado defendida na Universidade de Brasília. Durante o lançamento, será exibido um documentário sobre o Teatro Garagem, com depoimentos de 77 pessoas que participaram da experiência, e apresentado um catálogo de fotos produzido pelo designer Hugo Rocha. Maria Duarte dirigiu o Sesc da 913 Sul de 1970 a 1982 e, ao ser homenageada em 2009, recebeu o convite para escrever a história do reduto da cultura brasiliense daquele período. ;Resolvi acoplar os dois livros porque a experiência do Teatro Garagem foi de educação pela arte, inspirada pelos mesmos princípios de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, que nortearam o sistema de ensino nos tempos pioneiros de Brasília;, justifica. A história de O caso Brasília cobre o período de 1957 a 1982, e a de O caso Garagem avança de 1970 até 2000.

O Sesc da 913 Sul foi um espaço importante pela capacidade de articulação, ousadia e compromisso com a questão cultural de Brasília. O espaço era pequeno e pobre, mas havia a troca de hospedagem nas dependências do Sesc por ingressos para a formação de público com o Asdrúbal Trouxe o Trombone, o Teatro Oficina ou Alceu Valença e Macalé. O Sesc estabeleceu uma parceria com a Federação de Teatro Amador e foi criada uma rede de 60 cineclubes, que alcançou muitos espaços da periferia. ;Era uma resistência festiva, mas com abrangência muito grande, abrigando as múltiplas tendências estéticas e políticas. Além disso, investimos na formação de pessoal e estabelecemos parcerias com a Secretaria de Educação visando sensibilizar as novas gerações para a arte e a cultura, alcançando as escolas;, conta a autora.

E, hoje, qual o legado dessa experiência? Maria Duarte considera a dispersão e a falta de um ideal comum as mazelas da cultura em Brasília. Ou se espera tudo do poder público ou se fazem as coisas de forma solitária.

Por isso, ela resolveu organizar, em parceria com o Sesc, a UnB, o NAC (Núcleo de Arte e Cultura), o Cena Contemporânea e o Clube do Choro, um seminário sobre o tema ;Articulação de entes e agentes culturais;, a ser realizado, hoje, no Auditório da Reitoria da UnB, com a participação de artistas, arte-educadores e produtores da cidade: ;É preciso religar educação e cultura para ampliar a formação do público. É necessário também discutir a maneira como a cultura é divulgada nos dias de hoje;, comenta Maria Duarte.